sábado, 31 de outubro de 2009

Equivocismo e Pedagogia Imoral

No pensamento Aristotélico equivocismo significa atribuir um nome comum (ὁμώνυμος = homónimos) dado a objetos de natureza diferentes(1) e – portanto - de definições diferentes , como ocorre ao se atribuir o nome animal tanto ao homem real como a um retrato de homem(2).
Ao ler o artigo de Rubem Alves, "Pó de Giz"(3), publicado no Caderno Cotidiano da Folha de São Paulo, do dia 27/10/2009 podemos ver que o uso do equivocismo ocorre – e não pouco – em nossos dias.
É que o nobre autor, em seu artigo, minimiza a “brincadeira” de “cheirar pó”(4) equivalendo-a às brincadeiras com armas de fogo de seu tempo. Então, a partir das suas reflexões educacionais [sic!] chamaremos a ambos os tipos de brincadeiras de brincadeiras pura e simplesmente, além, claro de igualmente inocentes. Aí é que mora o equívoco, um grande equívoco que aqui, redunda em erro.
Ora, se eu também pude ainda alcançar “essa época” em que se podia brincar com brinquedos simuladores de armas de fogo uma coisa deve ser dita: “naquela época” havia um fundo moral comum de que “o bem devia vencer o mal”. E isto se materializada nos “mocinhos” que ganhavam dos “bandidos”. Este era o fim comum das brincadeiras como também de uns bons livros e filmes.
Também há algo importante... quem segurava as armas eram “os polícias”, por isso, as brincadeiras “daquela época” traduziam o fundo comum que era o de que a ordem e a segurança são direitos naturais e comuns da nossa natureza. Ora, portar arma de fogo é um direito e um dever natural dos poderes competentes. E brincar desses personagens é saudável quando se brinca que estes são honestos (como devem ser) e vencem o mal (como esperamos que ocorra) e – máxime – quando o mal é personificado nos “cheiradores de pó” ou de quaisquer outros marginais.
“Cheirar pó” nunca é um bem, nunca é algo bom, nunca trará algum bom resultado, em hipótese alguma, em perspectiva alguma... portanto, nem em brincadeira! Só se Rubem Alves se esqueceu de nos brindar com algum exemplo do benefício de tal prática, ou de sua brincadeira.
É patente que hodiernamente o fundo comum é totalmente outro! E bem outro! Por conta da, já mui denunciada, glamourização da bandidagem e do consumo do pó, não se pode mais pensar como antes. Brincadeiras que estimulem a “cheirar pó” não tem por fim que os “cheiradores de pó” serão pegos pela polícia, vencidos e que os “caretas” serão os vencedores! Longe disso!
A um bom tempo o Prof. Olavo de Carvalho já disse isto em alto e bom tom(5). O imperdoável e grave defeito do Prof. Carvalho é que ele indica inequivocamente os autores e fautores dessa glamourização: os intelectuais de esquerda!
Um texto da Veja Edição 2136 / 28 de outubro de 2009(6) intitulado “Quem cheira mata” demonstra um pouco isto, todavia só dá como exemplo jogadores de futebol esquecendo-se que não é a massa que ensina à massa, mas são os intelectuais que passam suas ideologias, costumes e tendências às massas tanto pelo ensino como pela (pseudo) cultura, pela imprensa e outros meios a seu dispor. Há ainda outro texto muito luminoso na Veja de Reinaldo Azevedo “Drogas – Pacto com o Demônio” de 27/10/2009(7). Mas também o Prof. Olavo já havia dito isto com mais contornos, pressupostos e conseqüências, mais de uma vez... basta conferir em seus textos!
Sabemos que a maioria dos nossos cantores, professores (muitos, antes estudantes), sindicalistas e políticos que tão bravamente lutaram contra o Regime Militar foram de esquerda(8) (ou nela ainda militam). Não se pejam quanto a isto, mas o dizem de peito aberto. É, todavia, estranho que não fazem a mesma luta (nem a menor!) contra o “consumo do pó”. Claro, cheiraram (ou ainda cheiram), ofereceram (ou ainda oferecem), instaram (ou ainda instam) a outros que o fizessem... se viciaram... Aliás, alguém conhece uma MPB contra as drogas em geral ou contra o “consumo do pó” advinda de um militante de Marx?
Nas universidades (principalmente as públicas) a “cultura do pó” corre frouxo sem qualquer ícone da esquerda que se lhe lute contra! Os “intelectuais do pó”, (professores e alunos) vivem “como leão a rugir, procurando a quem devorar”(9); e estes “a devorar” são nossos filhos, caretas e filhos de caretas ou de “ex-fungadores do pó” desertores da horda bárbara da qual faziam parte.
Ora, sabemos que Rubem Alves é militante da “esquerda” – ou se camuflou em “místico materialista”(10) [sic!], hábito muito comum em nossos dias como ocorreu com o ex-franciscano Leonardo Boff –. E isto nos ajuda a entender seu pensamento exposto no referido artigo.
Portanto, onde o caro Rubem Alves vê inocência(11) deve ser visto como iminente perigo, uma “pedagogia imoral” para uma das piores coisas do nosso tempo! Não há, pois, como não dizer que nosso querido articulista se engana, “redonda” e enormemente.
Se ele vê inocência nessa “brincadeira de cheirar pó” que a ministre a seus netos... quero meus filhos longe de tais ocupações “lúdicas” e oxalá – longe também de pessoas como Rubem Alves que me fazem lembrar uma passagem das Escrituras: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade; e fazem do amargo doce, e do doce amargo.”(12) Valha-nos Deus!!
QSS.
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Notas:
1.UNÍVOCO E EQUÍVOCO. Verbete. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
2.ARISTÓTELES. Órganon. Trad. Edson Bini. Bauru: Edipro, 2005. Categorias I, 1a 1-5.
3.http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2710200902.htm, acessada em 28/10/2009
4.http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u642187.shtml, acessada 28/10/2009, às 08:50h -4 GMT.
5.CARVALHO, Olavo. O Imbecil Coletivo I: atualidades inculturais brasileiras. 2ª. reimp. São Paulo: É Realizações, 2006. p. 161-179. Cf. também: http://www.olavodecarvalho.org/livros/bandlet.htm, acessada em 31/10/09, às 10:45h -4GMT.
6.http://veja.abril.com.br/281009/uma-prova-fogo-p-102.shtml
7. http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drogas-o-pacto-com-o-demonio/, acessada em 31/10/09, às 10:45h -4GMT.
8. Marxista! Já que podem ter inventado uma “direita” marxista para saírem impunes.
9. 1Ped. 5, 8.
10. Confira uma entrevista com Rubem Alves: “Rubem Alves e a Fé” http://rv.cnt.br/viewtopic.php?f=1&t=8269&p=159809&hilit=Rubem+Alves#p159809, acessada em 31/10/2009, às 10:00h -4 GMT
11. Rubem Alves. “É brincadeira. Igual a das crianças que brincam com o pó de giz...”
12. Is 5, 20. ARC