segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Graves contradições do movimento homossexual

No 18º Congresso Mundial sobre a aids, em Viena, maciça presença de organizações homossexuais, ausência de personalidades políticas e crescente distanciamento do público

Carlos Eduardo Schaffer
Correspondente - Áustria

A chuva durante o baile

Viena — O grande baile (Life Ball) na praça diante da prefeitura de Viena, no sábado 17 de julho, marcou a abertura do 18º Congresso-AIDS. Dele participaram o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, o bilionário Bill Gates, a vistosa princesa Mette-Marit, esposa do príncipe herdeiro da Noruega, a atriz Whoopi Goldberg (ganhadora do Oscar) e Auma Obama, meia-irmã do presidente Barack Obama, além de cozinheiros e modistas de renome, cientistas premiados e outras personalidades - em suma, gente que não está à procura de votos. Ausentes os políticos europeus.

O propalado ativista homossexual Gery Keszler organiza anualmente o Life Ball. Trata-se de um espetáculo espalhafatoso destinado a angariar recursos contra a aids, mas que sobretudo difunde os estilos homossexuais.

Os dias anteriores ao evento foram de muito sol em Viena, mas o serviço meteorológico anunciara temporal para a hora do baile. Os organizadores, sem se importar com a previsão, não tomaram medidas para a eventualidade de chuva. E ela caiu violenta, com ventos e trovões. Todo aquele aparato de personalidades desapareceu, buscando refúgio. Sob maquiagens escorridas e penteados que se desfaziam, ensopavam-se trajes dispendiosos. O fato nem sequer mereceria ser narrado, se não fosse simbólico do estado psicológico dos participantes do congresso-aids: desdém da previsão e menosprezo da disciplina.

No dia seguinte iniciou-se o congresso. Presentes 25 mil especialistas em aids, ativistas do movimento homossexual, aidéticos, militantes de esquerda. O lema do congresso - Direitos aqui e já - é revelador da tríplice vantagem visada pelos ativistas: identificar o aidético como vítima marginalizada; tratamento mais eficaz contra o vírus da aids; e sobretudo mais dinheiro. Na falta de verbas para combater a aids, o movimento homossexual reivindica vantagens em nome dos direitos humanos. Para esse fim, cria-se propositalmente uma confusão entre aidéticos e homossexuais.

Direitos humanos, o último dos argumentos

O bilionário Bill Gates

Gery Keszler e Annie Lennox puxaram um grupelho de foliões, composto sobretudo de ativistas homossexuais vindos de vários países, autodenominado Marcha pelos Direitos Humanos.

Keszler foi orador ao final da marcha: "Estigmatizar e discriminar infringe os direitos humanos", foi seu tema. Falou também Lennox, ex-cantora pop num conjunto inglês, que deixou a contestação política para defender os interesses de andróginos. Bateu na mesma tecla: "Enquanto não falarmos de direitos humanos, o combate à aids não terá sucesso".

Por que falam os ativistas em estigma da aids? Levantamentos realizados entre homossexuais aidéticos revelam a repugnância geral pela doença, até entre os próprios infectados. Uma vez contaminados, se ainda jovens, a grande maioria evita declará-la aos pais e até mesmo aos irmãos. Estudo recentemente realizado pela ÖGNA-HIV (associação médica austríaca para tratamento de aidéticos) mostra que apenas 33% dos recém-infectados falam da doença aos irmãos, 25% à mãe e 16% ao pai. Mas o segredo inconfessado e o receio de contaminar a família causam isolamento. Em que momento revelar o mal? Como fazê-lo? Em algum dia, simplesmente dizer eu sou aidético? O drama que sofrem é doloroso. Os colegas de trabalho, por exemplo, feita a revelação, passam a evitá-lo. Esse silêncio e essa separação complicam a situação psíquica do enfermo. Para 25% dos contagiados, a pior tortura é a suspeita dos outros que ainda não conhecem seu estado.

Entretanto a tragédia avança. A doença vai se fazendo notar, ora no rosto, na perda de peso, no cansaço, ora na auto-segregação, no comportamento taciturno e timorato. Quase impossível fazer novas amizades. Certos médicos temem os infectados, pois o risco de contágio é grande se os consultórios não estão inteiramente equipados. Sentindo-se outra pessoa, a vítima se auto-estigmatiza. Muitas se retiram da sociedade.

Ademais, como grande número de aidéticos são homossexuais, sentem-se excluídos da sociedade na qual perdura esta forma de bom senso que inclui a prática homossexual entre os pecados que bradam aos Céus e clamam a Deus por vingança. A este comportamento, o movimento homossexual qualifica de discriminação ou homofobia.

Exprimindo o consenso do Congresso, Keszler e Lennox referem-se a essa rejeição como um estigma que deve desaparecer, pois infringiria os direitos humanos. E alguns ativistas, cheios de ódio, já começam a exigir repressão contra os que não reconhecem à homossexualidade todos os direitos sociais.

Grupos de risco, expressão proibida

Segundo os congressistas reunidos em Viena, não se deve mais falar em grupos de risco, entre os quais indubitavelmente se incluem os homossexuais. A expressão é agora tachada de discriminatória, devendo ser substituída por comportamento arriscado - aplicável aos que não usam meios para prevenir o contágio em relações sexuais. Mas esses meios são claramente insuficientes e incômodos, e as pessoas dominadas pelo vício passam a abandoná-los. "Os homens que mantêm relações com outros homens incorrem em alto risco de infecção, mas desdenham esse risco", declara Isabell Eibl, responsável do serviço de prevenção contra aids em Viena ("Die Presse", 13-7-10).

Posição desarrazoada, mas existente, é o desbragamento sexual amortecer o medo da aids e aumentar o desejo das relações arriscadas. Ele conduz ao desregramento da razão, e neste caso ambos atentam contra a natureza. Descido o último degrau do vício, chega-se ao abismo da morte.

Esse comportamento já tinha sido apontado por Peter-Philipp Schmitt em "FAZ" (1-12-08): "Um número crescente de homossexuais não vê perigo na aids. Mas, quando infeccionados, se vêem excluídos do convívio, até mesmo outros homossexuais os excluem". Confessa um homossexual: "Costumo não revelar logo meu problema, pois quero primeiramente ser tratado como um ser humano, e depois como aidético".

As pessoas em geral lamentam o estado em que caiu o aidético, e o movimento homossexual costuma explorar esta triste circunstância para induzir a opinião pública à compaixão não só pelos aidéticos em geral, mas pelos homossexuais em particular. Assim fazendo, tentam explorar em benefício próprio a boa vontade pública, ainda largamente impregnada da caridade cristã.

A compaixão é um nobre sentimento, que leva a ajudar o próximo a livrar-se do mal em que caiu. Mas compactuar com a homossexualidade, ou mesmo tomar uma posição de indiferença em relação a ela, não cabe na verdadeira compaixão. Muito menos se poderia entender como compaixão a concessão às reivindicações do movimento homossexual, o qual considera a homossexualidade um direito humano. Seria compaixão, isto sim, ajudar um homossexual a livrar-se de sua tendência, ou ao menos a evitar a prática de atos homossexuais.

Surpreendente omissão da verdadeira solução

Em nenhum momento da realização do congresso a imprensa divulgou notícias que tratassem da contenção sexual como meio eficaz de evitar a aids. Mesmo da parte de autoridades eclesiásticas, não houve pronunciamentos nesse sentido - ou se os houve, foram de pouco relevo. Faltaram vozes recordando que o corpo humano é templo do Espírito Santo e não pode ser conspurcado. Podemos imaginar o furor que a alusão a isso provocaria nos participantes do congresso, mas é certo que seria bem recebida pela maioria da população.

Graves contradições do movimento homossexual

Ativistas dos direitos humanos aliam-se aos homossexuais, mal disfarçando suas intenções de expandir a homossexualidade usando recursos destinados ao combate contra a aids. Certas medidas de proteção de pessoas sadias em contacto com aidéticos são tachadas de discriminação. Por exemplo, eles se opõem a testes preventivos nas prisões, onde o índice de contaminação é elevado. Falando sobre medidas profiláticas nas prisões, afirma Manfred Nowak, diretor do Instituto Boltzmann para os direitos humanos em Viena: "Não, a saúde pública não tem precedência sobre o princípio da discriminação" ("Die Presse", 24-7-10).

É também qualificada de discriminatória a proibição de certos países à entrada em seu território de estrangeiros aidéticos. Discriminatória é considerada ainda a obrigação do aidético de revelar seu mal ao ser acolhido num posto de saúde ou hospital. Mas se são discriminatórias estas medidas de bom-senso, visando a restringir a propagação da doença, de que servem as organizações anti-aids?

Outra contradição gritante: essas organizações pedem sempre mais verbas para multiplicar livros, folhetos e centros de informação da juventude sobre relações sexuais. Mas a informação dos jovens nessa matéria é habitualmente feita de modo a incitar à prática sexual precoce, o que resulta em expor os jovens à doença.

O uso de drogas é tido como grande responsável pela propagação da aids. A verdade é um pouco diferente: não é tanto a droga que dissemina o mal, mas sim que, por desordem psíquica, homossexuais procuram a droga. Mesmo assim, o congresso propôs maior liberdade para o uso e o tráfico de drogas. Não querem que sejam considerados crime, e propõem que a venda seja regularizada, como sucede com o álcool e o fumo.

Viver com a infecção até a morte

Descoberta há 28 anos, a aids pode hoje não levar rapidamente à morte - pelo menos nos países ricos. Mas na África, na Rússia e na Ásia Central, esse mal vem fazendo devastações.

Se hoje pode não matar logo, aqueles que a contraem vivem com ela em que condições? O aidético passa a viver em isolamento social, senão imediatamente, ao menos depois de alguns anos. Os amigos tendem a abandoná-lo, e outros aidéticos também. A família, sabendo que ele optou por um comportamento ruinoso, não quer sacrificar-se por sua incúria.

Mão de um doente de aids na África

Alguns enfermos tomam até 28 comprimidos ao dia. Depois de alguns anos, andam com dificuldade ou usam cadeira de rodas. A toalete é feita por enfermeiros, que lhes aplicam injeções e friccionam a pele ressequida pelo excesso de medicamentos. Mas é comum encontrar enfermeiros que temem tratá-los, devido ao medo da contaminação, e sobretudo dentistas recusam clientes aidéticos. Evita-se a morte imediata, mas o paciente vive em estado mórbido, à custa de remédios caros. As verbas tornam-se cada vez mais insuficientes.

Poucas esperanças de tratamento

À esquerda, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton

"Dinheiro para a vida", gritavam os ativistas homossexuais no congresso. Clinton tomou a palavra na abertura, referiu-se à situação financeira precária do movimento anti-aids, e sustentou que os governos não devem invocar a crise mundial como pretexto para não contribuir. Dirigindo-se aos 25 mil congressistas, a maioria participando com auxílio de verbas governamentais, acenou com esta constatação de fundo emocional: "Muitos países dão muito dinheiro para que muitas pessoas com muitos aviões possam participar de muitos congressos".

Grande número de especialistas presentes manifestava poucas esperanças: aumenta no mundo o número de infectados, e não se tem ao alcance da vista uma vacina contra a aids. O pessimismo domina o meio científico. Clinton acenou ainda para a necessidade de controlar os gastos de infra-estrutura das associações anti-aids.

A opinião pública toma distância

Cresce o temor em relação à aids, donde uma aversão crescente da população à homossexualidade, tida como principal fator da sua expansão. A princesa Mette-Marit mencionou o cansaço crescente da opinião pública sobre o tema aids-homossexualidade. Foi provavelmente este o motivo de se tentar retirar do Life Ball, neste ano, a conotação predominantemente homossexual.

A princesa Mette-Marit, esposa do príncipe herdeiro da Noruega

Cresce o número de novas infecções entre jovens, mas nenhum esforço se faz no sentido de coibir a devastadora prática sexual entre eles, ninguém quer pagar pelas conseqüências da devassidão.

Os ativistas insistiam: Dinheiro para a vida. Reivindicam a adoção de um imposto sobre transações financeiras. A sugestão de se procurar donativos privados foi recebida com geral ceticismo. Quem destinará fundos para encobrir males de grupos de risco, que comodamente se entregam a relações arriscadas? Muitos países vêm congelando suas doações, outros as diminuem. Isso explica a ausência dos políticos neste congresso.

O "dogma" da liberdade sexual tende a levar as pessoas, evidentemente, à falta de interesse e de empenho da vontade para se coibir ou se prevenir. Cada um acha que a ele o mal não atacará. Uma vez infectado, tem dificuldade em tomar os medicamentos, cuja prescrição é severa, exigindo dele uma grande disciplina que ele já demonstrou não ter. Além disso, logo que notam os primeiros resultados da terapia, recaem na vida desregrada sem prevenções.

No fim, a sensação de uma ameaça cada vez mais próxima e de uma esperança cada vez mais longínqua...

Os ativistas homossexuais no congresso não ousaram utilizar sua arma psicológica preferida contra a população: a palavra homofobia. Ela visa inibir o bom senso dos que, em razão de princípios morais ou outros, recusam a homossexualidade. O movimento está dominado pela insegurança. Seus adeptos parecem preferir conquistar a compaixão a combater os opositores. Mesmo os políticos, seus maiores aliados, agora tomam distância, por receio de perder votos.

Até hoje a aids matou 25 milhões de pessoas, e 60 milhões são portadores. Espera-se uma nova onda de contaminações da qual não se pode duvidar, tendo em vista as condições de indisciplina corporal dos grupos de risco.

"É preciso não desistir, manter a esperança, vamos continuar" - diziam certos congressistas ao partir. Entretanto, na grande sala do congresso, o estado psicológico era de abatimento.

E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/F4271965-3048-313C-2EA5DD404608B8F9/mes/Setembro2010