segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

 Por que a bandeira marxista não é tratada da mesma forma que a suástica nazista?
Na filosofia marxista não há lugar para o amor de Deus e para o amor ao próximo.

Karl Marx é o maior filósofo de todos os tempos. Ao menos foi o que muitos ouvintes da rádio BBC afirmaram a responder a pergunta “Qual maior filósofo de nossos tempos?”. Para a surpresa de alguns, Marx liderou a pesquisa (27,93% dos entrevistados), batendo – por ampla margem de diferença – pensadores como Aristóteles (4,52%) e Kant (5,21%).

Marx escreveu muitas coisas, até mesmo palavras admiráveis sobre o capitalismo, o qual via como um avanço explícito nos arranjos econômicos anteriores. O resultado da BBC, no entanto, ressalta uma estranha cegueira nas sociedades ocidentais que persiste em relação a Marx.
De certa forma, nada disso é novidade. Em 1930, ocidentais intrépidos viajaram para a União Soviética e retornaram dizendo que tinham visto o futuro. De algum modo, eles conseguiram não ver o expurgo, a coletivização, e os gulags que acabaram por aprisionar e matar milhões de pessoas. Dizem, muitas vezes, que o comunismo é um sistema sem Deus. Isso não é bem verdade. O comunismo foi sem Deus na medida em que se baseou numa visão atéia do homem. Mesmo assim, o comunismo teve seus deuses divindades para quem todos e qualquer um poderiam ser sacrificados.
Uma resposta comum é dizer que a filosofia de Marx foi distorcida por Lênin e Stalin. O próprio Marx, como muitas vezes ouvimos, foi um humanista que queria libertar os povos de seus grilhões. Outros apologistas insistem que podemos fazer distinções entre o jovem e o velho Marx: o jovem filósofo, mais humanista, e o grisalho e insensível revolucionário.
Mesmo numa rápida passada de olhos, os escritos de Marx rapidamente nos revelam a superficialidade de tais defesas. Uma consistente visão desumanizante aparece em todo o pensamento de Marx. Para esse autor, o homem é um ser cuja origem é irrelevante, o futuro é a extinção e o presente é submissão ao controle. Mesmo que as pessoas vivessem na sociedade comunista de Marx, elas não teriam a possibilidade de uma existência com significado. Certa vez Marx descreveu a sociedade comunista como aquela em que seria possível “fazer uma coisa hoje e outra amanhã”; “caçar pela manhã, pescar à tarde, criar gado à noite e criticar depois do jantar, se me aprouver”.
Isso parece idílico até percebermos que, da perspectiva marxista, nenhuma dessas atividades pode ter qualquer valor para os seres humanos. Para os verdadeiros materialistas, não há diferença qualitativa entre ler e pescar, trabalhar ou dormir, viver ou morrer. Tudo tem o mesmo valor e, portanto, nenhum valor. Nesse mundo não há diferença entre o trabalho de Madre Teresa de Calcutá e o de um guarda do campo de concentração. Eles partilham da mesma parcela de irrelevância geral de tudo e de todos.
Isso nos diz que o marxismo não pode estar interessado na justiça ou na liberdade. Ele insiste no fato de sermos como uma jangada, navegando nas ondas da história. Em tal mundo, nossas vidas não são importantes e nossas mortes, irrelevantes. Tentamos salvar somente a satisfação animal que tiramos da vida, antes que o nada em essência que somos termine na nossa aniquilação final como seres vivos.
Tanto se pode dizer do humanismo de Marx - e este é um dos problemas mais sérios da filosofia marxista -, é que ela é a legitimação da criminalidade. Por “criminoso” não quero dizer simplesmente a pessoa que ocasionalmente desrespeita a lei. Em vez disso, pretendo descrever toda a situação em que a pessoa decide estar acima da lei, não estar sujeita à lei e onde a lei age meramente como outra ferramenta do poder. Pois, se o marxismo estiver correto e o materialismo for verdadeiro, então a violência sistemática à lei para alcançar objetivos políticos é aceitável.
Ironicamente, enquanto milhões de pessoas nos dias de hoje conhecem os impronunciáveis crimes nazistas, muito poucos, ao contrário, sabem das atrocidades cometidas por Lênin, Stalin, Fidel Castro, Pol Pot e outros marxistas. É como se houvesse um acordo silencioso para que esses crimes não sejam mencionados. Essa ignorância estudada manifesta-se quando observamos bandeiras vermelhas com foices e martelos estampados em passeatas. Será que as pessoas que as empunham sabem dos muitos que foram escravizados e mortos pelos regimes marxistas? Por que a bandeira marxista não é tratada da mesma forma que a suástica nazista?
É claro que Marx morreu muitos anos antes de seus seguidores chegarem ao poder. Mas podemos suspeitar de que Marx teria aplaudido o uso da violência pelos comunistas. O próprio Marx advogou o enforcamento dos capitalistas nos postes mais próximos. “Quando chegar a nossa vez”, advertiu a seus oponentes, “não disfarçaremos o nosso terrorismo”.

Muitas ações violentas têm sido cometidas em nome de filosofias e religiões, e nisso incluímos o cristianismo. Mas a diferença é que o cristianismo possui um critério moral, segundo o qual podemos julgar e condenar tais atividades cometidas por parte dos cristãos. O marxismo nunca teve nem terá tais padrões, pois na filosofia marxista não há lugar para o amor de Deus e para o amor ao próximo. Talvez isso, acima de tudo, torne Marx tão indigno da admiração de nossos contemporâneos.



Samuel Gregg
é diretor de pesquisas do Acton Institute.

Ao revelar no Dossiê os “Fundamentos Doutrinários” que nortearam os militares na Guerrilha do Araguaia, Azambuja terminou por produzir o primeiro manual antiguerrilha brasileiro -- pelo menos é o primeiro documento sobre o tema preparado para se tornar público.
O Professor Azambuja talvez seja o analista de inteligência mais experiente ainda em atividade no País. Está nos serviços de informações militares desde 1967. Mesmo aposentado, continuou trabalhando no ramo. Nunca entrou em ação armada, mas organizou um dos mais completos arquivos do País sobre os partidos socialistas e as organizações marxistas que atuaram no Brasil desde 1922. Suas especialidades são o movimento comunista internacional e o Partido Comunista Brasileiro, o PC; chegou a participar na condição de militante do Congresso do partido que criou o PPS, em janeiro de 1992, votando pelo fim da velha sigla comunista. Escreve regularmente, assinando o codinome, artigos sobre temas militares e políticos para revistas militares e para jornais de grande circulação nacional. Chegou a publicar um artigo nos Cadernos de Debates, do PCB, defendendo a revisão do comunismo. Nas Forças Armadas, corre o mito de que teria a maior rede pessoal de informantes já montada no Brasil, boa parte ainda infiltrada nas organizações socialistas. Esteve em missões no exterior, por toda a América Latina e Europa.
Mesmo entre os militares, poucos já o viram pessoalmente ou conhecem sua verdadeira identidade. Nos tempos da Guerrilha do Araguaia, não participou diretamente das ações na selva. Mas foi um dos analistas de informações que, entre outras tarefas, desvendou a verdadeira identidade de alguns dos guerrilheiros. Na seqüência, idealizou, pesquisou e escreveu um longo trabalho sobre a história e a atuação do PC do B, ainda hoje utilizado como referência pelos órgãos de informações militares. Por mais de duas décadas correu nos meios militares a lenda de que seria o Capitão Aza, personagem de programa infantil da TV Tupi nas décadas de 60 e 70. Não é. Um dia será possível revelar sua verdadeira identidade. Acredito, contudo, que isso seja um detalhe de menor importância. O relevante não é saber quem é o professor Azambuja, mas sim o que ele tem de relevante a acrescentar à História.
O Professor Azambuja, codinome de um dos militares responsáveis pela organização e redação final do Dossiê Araguaia, durante a confecção do trabalho terminou por criar o seu próprio manual antiguerrilha. Foi incorporado ao Dossiê, já como primeiro capitulo, batizado de “Fundamentos Doutrinários”, onde se faz uma longa dissertação, de 26 páginas, sobre o tipo de guerra que encontraram no Araguaia (“Guerra Irregular”, classificaram), a definição do inimigo que combateram (“Rebeldes”), as táticas empregadas por esse inimigo (“Fustigação”), as vantagens e desvantagens que eles tinham sobre as forças oficiais e, por fim, o modus operandi que as “Forças Contra-Rebeldes” deveriam empregar para combater e aniquilar os “rebeldes”.  
Ao revelar no Dossiê os “Fundamentos Doutrinários” que nortearam os militares na Guerrilha do Araguaia, Azambuja terminou por produzir o primeiro manual antiguerrilha brasileiro -- pelo menos é o primeiro documento sobre o tema preparado para se tornar público. Para elaborá-lo, ele se baseou em documentos secretos ou reservados das Forças Armadas, que na ocasião apresentaram os “fundamentos doutrinários” aos militares que deveriam combater a guerrilha. Também se baseou nos fundamentos da guerra popular prolongada, escrito por Mao Tse-Tung, na Teoria do Foco Guerrilheiro, de Régis Debray, e no Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella. Naturalmente, a redação foi em grande parte fruto do próprio imaginário que o autor tinha (e que ainda tem) sobre quem eram os inimigos que os militares combateram –e como deveriam aniquilá-los. Chamo a atenção para um trecho:

“Esse é o principal  problema que o Estado de Direito enfrenta ao combater o inimigo na Guerra Irregular. No Estado de Direito existem dois tipos de pessoas: o cidadão correto e o criminoso. O terceiro tipo de pessoa, aquele que conduz uma Guerra Irregular, não existe. Aqueles que promovem uma Guerra Irregular não conhecem quaisquer obrigações, pois nada os submetem à obediência da lei civil e nada há que os submetam às leis da guerra. Em contraposição, o Estado de Direito é submetido em todos esses aspectos. (...) Em suma, a Guerra Revolucionária é uma guerra suja e nela são empregados todos os meios. Até mesmo os legais”.


(Dezembro de 2004).

Você não pode enfrentar cada idéia ruim na cultura em geral. Não há tempo suficiente em seus dias. Mas você tem enfrentando alguma das muitas más idéias que surgem em torno de você e em suas esferas de influência?


O grande e falecido Chuck Colson tinha um gosto impecável na literatura. O que eu quero dizer, de fato, é que ele gostava de todos os mesmos livros dos quais gosto. Eu acho que deveria dizer que gosto de todos os mesmos livros que ele gostava.

Eu especialmente adorei os comentários dele no Breakpoint.com focando em um grande autor. Isto sempre me inspirava: ouvir o Sr. Colson falar de forma tão eloquente e apaixonada sobre grandes romances, que estes não precisariam de Kirk Cameron estrelando uma versão cinematográfica para que os cristãos amassem tais obras.

Ao comentar sobre Fyodor Dostoevsky e seu trabalho clássico ‘Crime e Castigo’, Colson disse o seguinte:

O romance conta a história de Raskolnikov, um estudante em São Petersburgo, Rússia. Consumido pela pobreza, opressão e a decadência que vê ao seu redor, Raskolnikov se isola da maioria dos outros seres humanos. Em sua auto-alienação, começa a ver a si mesmo como um ser superior, uma espécie de "super-homem", que transcende as leis morais que conectam outras pessoas. Ele busca uma maneira de "validar" a si mesmo e a seus sentimentos de superioridade, um processo que foi denominado "suicídio por auto-afirmação”.

Dostoevsky tinha vivido na Europa Ocidental e, como cristão, viu os perigos das ideias intelectuais da moda como o niilismo e o utilitarismo. Um "padrão em seu trabalho”, Boa diz, é o conflito do cristianismo com visões de mundo utópicas. Dostoievsky quis deixar claro que "as ideias têm consequências."

Dostoevsky começou como um co-conspirador socialista, apenas para ser condenado pelo regime czarista a quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria. O homem que voltou da prisão não era o mesmo. Dedicou-se ao estudo e exploração das idéias. Viajou à Europa para ouvir em primeira mão os grandes pensadores seculares/progressistas de seus dias. O que finalmente emergiu foi um homem totalmente determinado a minar as ideologias ruinosas da sua época.

Ele tinha seus demônios e tragédias pessoais. Mas Fyodor Dostoevsky era um homem, como demonstra Chuck Colson, que entendeu que o comportamento segue a crença. O modo como vivemos como indivíduos e as decisões que os líderes nacionais tomam são os resultados mais recentes de uma batalha de idéias que não começou ontem e não vai terminar amanhã.

Você não pode enfrentar cada idéia ruim na cultura em geral. Não há tempo suficiente em seus dias. Mas você tem enfrentando alguma das muitas más idéias que surgem em torno de você e em suas esferas de influência?

Se você é um pai, ou um pastor de jovens, por favor, lembre-se que as mensagens obscenas das comédias da classificação de conteúdo PG-13 ou do rap não são as únicas idéias que podem apodrecer os cérebros de seus filhos. Pergunte aos estudantes próximos a você o que eles estão aprendendo e esteja preparado para dar uma resposta em defesa das coisas em que você acredita.


*

“Sem educação, corremos o horrível e mortal perigo de levar as pessoas educadas a sério”.
G.K. Chesterton


Do Acton Institut Powerblog.


Tradução: Leandro Souza
A quem interessa a destruição da família brasileira? A quem interessa o caos social?

Recentes estudos coordenados pela OEA têm demonstrado que, em todos os países onde houve algum nível de liberação das drogas, o consumo aumentou notadamente entre os jovens. Nos lugares onde houve maior tolerância com a maconha, seu consumo aumentou em razão da queda no preço do produto, verificando-se, também, um maior consumo de outras drogas perigosas. Este é o caso de Portugal, Áustria, Holanda, Reino Unido, alguns Estados americanos e o Brasil – onde, em 2006, a legislação abrandou a pena para o consumidor.

Na Holanda, o consumo de maconha cresceu 5%. Eu vi a bela cidade de Amsterdã - terra encantada do Rijksmuseum, StedelijkMuseum, Casa de Rembrandt, Casa de Anne Frank, Museu Van Gogh e outros - infestada de pessoas, principalmente jovens, exalando maconha de suas roupas pelos bondes. E este mesmo espírito libertarian, que não mede as consequências sociais dessas legalizações nefastas, incentiva, in pari passu, a perversão do turismo sexual do Bairro da Luz Vermelha. Dos grandes canais e artistas às bandeiras verdes e vermelhas da degradação moral, cultural e paisagística da capital dos Países Baixos.
No caso português, uma pesquisa realizada pelo Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) registrou que, entre 2001 – data em que foi implementada a política de descriminalização da droga em Portugal – e 2007, o consumo continuado de drogas registrou, em termos absolutos, uma subida de 66%. De forma segmentada, a pesquisa apontou ainda que, no período em análise, registrou-se aumento de 37% no consumo de Cannabis, de 215% no de cocaína, de 57,5% no de heroína e de 85% no de Ecstasy.
Embora a psiquiatria brasileira confirme alguns benefícios clínicos pontuais da Cannabis no tratamento de algumas doenças como o glaucoma, faz o alerta quanto aos perigosos efeitos colaterais em longo prazo, tais como: infertilidade, esquizofrenia e outras psicoses, e desagregação social.
Uma pesquisa do Instituto Neurológico de Queensland, na Austrália, estudou mais de 3.801 homens e mulheres nascidos entre 1981 e 1984 e os acompanhou por 21 anos para perguntar-lhes sobre seu uso de maconha, avaliando os pacientes para episódios psicóticos. A conclusão: jovens que fumam maconha por seis anos têm o dobro da probabilidade de sofrer episódios psicóticos, alucinações ou delírios do que pessoas que nunca usaram a droga.
Os efeitos reais sobre os jovens são inevitáveis: aumentando o consumo de maconha, aumentará também a evasão escolar – por confusão mental, diminuição da memória e rebaixamento da inteligência –, a taxa de dependência química de outras drogas, índices de depressão e esquizofrenia.
Se já somos o maior mercado consumidor de crack do mundo e o segundo de cocaína, temos perto de 10 milhões de jovens “nem-nem” (aqueles que nem trabalham, nem estudam), um consumo frenético de Rivotril (ansiolítico, o segundo medicamento mais vendido no país, algo em torno de 14 milhões de caixas/ano), 50 mil estupros e 47 mil homicídios por ano, 58º lugar no ranking de educação no Pisa, queremos ser o maior mercado de maconha, a ilustrar a nossa galeria de medalhas de papelão queimado?
O que se passa no Brasil de hoje já foi diagnosticado por Viktor E. Frankl - psiquiatra austríaco e fundador da logoterapia – em seu livro “Em Busca de Sentido - Um Psicólogo no Campo de Concentração”, em que afirma categoricamente: “há ampla evidência empírica de que as três facetas desta síndrome - depressão, agressão, dependência de drogas - são devidas ao que se chama em logoterapia de ‘o vazio existencial’, um sentimento de vacuidade e de falta de sentido”.

A quem interessa a destruição da família brasileira? A quem interessa o caos social? A quem interessa a falta de sentido?
Na Guerra Revolucionária, portanto, e até ser alcançado o equilíbrio de forças, somente o rebelde pode realizar operações de bater-e-correr, porque as forças legais oferecem alvos fixos.

Jamais um jogador de xadrez descobriu um meio seguro de ganhar a partida no primeiro lance, pois o jogo encerra um sem número de variáveis. A guerra, embora não seja um jogo de xadrez e sim um fenômeno social, possui um número de variáveis infinitamente maior. Algumas fogem a quaisquer análises, como, por exemplo, a sorte. Não obstante, o acúmulo de experiências e os estudos geraram livros e documentos que podem ser definidos como as Leis da Guerra, embora não possuam, como é natural, o mesmo valor das leis da Física.

Uma dessas leis diz que o contingente mais forte geralmente é vitorioso. Se os contendores têm forças semelhantes, ganha o mais resoluto. Sendo igual a resolução dos dois lados, a vitória pertencerá àquele que assume e mantém a iniciativa.
Essas são as Leis da Guerra. Podem variar de época em época, na medida em que mudam a tecnologia, os armamentos e outros fatores, mas, de modo geral, conservam seu valor.
A Guerra Revolucionária não constitui uma exceção, mas tem normas especiais, diferentes daquelas relativas às guerras convencionais, e também porque a maior parte das regras aplicáveis para um lado não é válida para o outro, pois numa luta entre uma mosca e um elefante, a mosca não pode aplicar um golpe fulminante e nem o elefante pode voar. Na Guerra Revolucionária, a inteligência e o apoio da população são fundamentais.
A Guerra Revolucionária poderá ser definida como um conflito interno, desafiando um poder local, embora quase sempre afetado por influências externas.
Mais: uma rebelião pode ter início muito antes do rebelde recorrer à força.
Foi assim na chamada Guerrilha do Araguaia (1972-1974). A rebelião começou a ser gestada nos idos de março de 1964, ainda no governo João Goulart, quando o primeiro grupo de militantes do Partido Comunista do Brasil foi mandado à China a fim de receber treinamento militar. Ou mesmo, talvez antes, quando foi constituído o partido, em fevereiro de 1962, definindo como opção a violência armada através da “Guerra Popular Prolongada”. Portanto, o início de uma Guerra Revolucionária é tão vago que buscar determinar exatamente quando ela teve início transforma-se em um problema legal, político e histórico.
No decorrer desse tipo de conflito o rebelde precisa se transformar de pequeno em grande, de fraco em forte, pois senão fracassará. A Guerra Revolucionária tem as seguintes características:
Objetivo: a população
O rebelde busca levar a luta para um terreno diferente daquele em que é travada a guerra convencional, onde ele terá melhores possibilidades de equilibrar suas desvantagens físicas. Esse terreno é a população. Se o rebelde consegue dissociar a população das forças legais, controlá-la fisicamente, obter seu apoio ativo, vencerá a guerra, porque, em última análise, o exercício do poder político depende da aquiescência tácita ou explícita da população ou,                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            na pior das hipóteses, de sua passividade. Isso torna a batalha pela população uma das principais características da Guerra Revolucionária.
A Guerra Revolucionária é uma guerra política
Na guerra convencional, a ação militar, a diplomacia, a propaganda e a pressão econômica, são os principais meios de atingir a meta visada. Em conseqüência, torna-se relativamente fácil a distribuição de tarefas entre o governo, que dirige as operações, a população, que proporciona os meios, e os militares, que os utilizam.
Na Guerra Revolucionária, contudo, a situação é diferente, pois o objetivo principal é a população e as operações destinadas a conquistá-la ou, pelo menos, mantê-la passiva. Essas ações são essencialmente políticas. Daí que as ações políticas conservam a preponderância durante todo o transcurso da guerra. No entanto, é tão complexa a interação das ações políticas com as ações militares que elas não podem ser claramente separadas entre si. Pelo contrário, todos os lances militares têm que ser considerados com relação aos efeitos políticos, e vice-versa.
Os rebeldes, conduzidos por um partido e cujas forças armadas são os militantes do partido, desfrutam de uma óbvia vantagem sobre seu oponente, o governo, que pode ou não ser apoiado por um partido ou um grupo de partidos, muitas vezes com tendências centrífugas, e cujo exército é o Exército da Nação, nele refletindo-se o consenso ou a falta dele. Mais ainda: nenhuma Academia Militar ensina aos cadetes como “ganhar” uma população politicamente.
A transição gradual da paz para a guerra
Na Guerra Convencional a transição da paz para a guerra é brusca e o primeiro impacto poderá ser o decisivo.
Na Guerra Revolucionária isso é dificílimo, porque o agressor - o rebelde - carece, no início, de força suficiente. Podem passar anos, como ocorreu na Guerrilha do Araguaia, antes do rebelde sentir-se em condições de obter um poder político significativo e, muito mais, de obter um poder militar. Nessa situação, o rebelde não tem qualquer interesse em causar um impacto até sentir-se plenamente capaz de suportar a reação das forças governamentais. No Araguaia, os rebeldes dispuseram de um escasso poder militar, mas nunca obtiveram poder político e a aquiescência da população. Retardando o mais possível o momento do impacto, o rebelde protela a reação.
A Guerra Revolucionária é uma guerra prolongada
A natureza prolongada de uma Guerra Revolucionária não resulta do desejo de nenhum dos lados. Ela é imposta ao rebelde por sua debilidade inicial. Ela só será curta se o governo desmoronar prematuramente - como ocorreu em Cuba, em 1959, onde o regime de Fulgêncio Batista desintegrou-se e ele próprio abandonou o país - ou se um acordo político for alcançado, como ocorreu na Tunísia, no Marrocos e em Chipre.
Recorde-se que na China a Guerra Revolucionária durou 22 anos, 12 na Malásia, 9 na Indochina, 8 na Argélia, 5 na Grécia, 4 no Marrocos e 3 na Tunísia.
A rebelião não é dispendiosa, ao contrário da contra-rebelião
A promoção da desordem é o objetivo do rebelde, pois desagrega a economia, causa insatisfação e serve para solapar a força e a autoridade do governo. A criação da desordem não é dispendiosa, mas de custosa prevenção. O rebelde, ao explodir uma ponte ou uma torre de transmissão de energia, obriga a que todas as demais sejam vigiadas; ao fazer explodir uma bomba em um cinema, obriga a que todos os freqüentadores de todos os cinemas passem a ser submetidos a uma revista; quando o rebelde queima uma fazenda, todos os fazendeiros passam a clamar por proteção e, se não a recebem, podem ser tentados a organizar milícias de defesa armada. Também através de simples telefonemas anônimos, avisando sobre supostos artefatos colocados em terminais rodoviários, ferroviários ou aeroviários, os rebeldes podem causar anarquia nos horários do sistema de transportes e afugentar turistas.
O governo, ou seja, as forças legais, não pode fugir à responsabilidade de manter a ordem, o que causa uma desproporção elevada de despesas entre ele e o rebelde. Todavia, mais cedo ou mais tarde, é alcançado um ponto de saturação, um ponto em que o princípio da produtividade regressiva funciona para ambos os lados, pois uma vez que o rebelde consiga o domínio de bases geográficas estáveis, ele se tornará um forte promotor da ordem dentro de sua área. Nesse sentido, o rebelde, em virtude da disparidade em custo e esforço, pode aceitar uma guerra prolongada, mas as forças legais não devem fazê-lo, pois os custos seriam muito altos para o País.
A fluidez do rebelde e a rigidez das forças legais
Por não ter responsabilidades e nem valores concretos, o rebelde é fluido. As forças legais, por sua vez, por ter ambos, são rígidas. Se as forças legais quisessem ver-se livre de sua rigidez teriam que renunciar ao governo legal do país e abandonar seus bens concretos, deixando tudo à mercê dos rebeldes. Todavia, nenhum governo jamais se atreveu a lançar mão desse recurso extremo.
O rebelde é obrigado a permanecer fluido, pelo menos até chegar a um equilíbrio de forças com o governo. Por mais desejável que seja para o rebelde possuir territórios, forças regulares, equipamentos e armas poderosas, possuí-las prematuramente poderá sentenciá-lo à morte. Historicamente, o fracasso dos rebeldes comunistas na Grécia pode ser atribuído, em parte, ao risco que passaram a correr ao organizar suas forças em batalhões, regimentos e divisões e aceitaram a guerra convencional.
Na Guerra Revolucionária, portanto, e até ser alcançado o equilíbrio de forças, somente o rebelde pode realizar operações de bater-e-correr, porque as forças legais oferecem alvos fixos. E somente ele, o rebelde, estará livre para aceitar ou recusar uma batalha.
A rigidez para um lado e a fluidez para o outro são também determinadas pela natureza das operações. Para o rebelde, elas são relativamente simples: promover desordens sob todas as formas, no sentido de desintegrar e desacreditar o governo. Já o governo tem que levar em conta a necessidade de proteger as populações, a economia e defender-se contra os ataques inesperados dos rebeldes, além de ter que coordenar todos os componentes das forças da ordem: os governantes, os policiais, os soldados, os assistentes sociais, etc.
O poder da ideologia
A menos que tenha uma causa bem fundamentada capaz de atrair a população, o rebelde não terá condições de empenhar-se vitoriosamente em uma rebelião. No começo das hostilidades, essa causa é tudo o que ele possui e a força da ideologia trabalha em seu favor. Um governo, desde que confrontado por uma ideologia rebelde dinâmica estará fadado à derrota uma vez que não existem táticas e nem técnicas possíveis de contrapor a uma desvantagem ideológica, embora a atitude da população seja ditada não tanto pela relativa popularidade da causa dos rebeldes, mas pelas preocupações com sua própria segurança. Qual dos lados proporciona a melhor proteção, qual o mais ameaçador, qual vencerá provavelmente? Esses são os critérios que determinam, em última análise, a posição da população.
A propaganda, uma arma unilateral
Não tendo responsabilidades, o rebelde está livre para lançar mão de quaisquer truques. Pode mentir, enganar e exagerar, pois não está obrigado a oferecer provas. O rebelde é julgado pelo que promete e não pelo que realiza. Dessa forma, a propaganda é, para ele, uma arma poderosa.
Os governos, por sua vez, estão presos às suas responsabilidades e ao seu passado e, para eles, os fatos falam mais alto que palavras. Eles são julgados pelo que fazem, ou fizeram, e não pelo que dizem. Caso mintam, enganem, exagerem e não provem, poderão alcançar alguns êxitos efêmeros, mas ao preço de cair para sempre no descrédito, pois a oposição política legítima logo desvendaria e denunciaria suas manobras psicológicas. Raramente os governos podem, através da propaganda, encobrir uma política má ou inexistente.
A Guerra Revolucionária permanece não-convencional até o fim
Com o rebelde, no decorrer das hostilidades, ganhando força e passando a possuir forças regulares significativas, seria de supor que a guerra passasse a ser convencional. Ou seja, uma guerra em que cada um dos contendores detém uma parte do território nacional. Mas, se o rebelde bem compreende seus problemas estratégicos, não deixará jamais que a Guerra Revolucionária assuma uma forma convencional.
Uma das razões é que desde o início da Guerra Revolucionária, obrigatoriamente o rebelde terá envolvido a população no conflito, pois a ativa participação da população é, como já vimos, uma condição sine-qua-non para o êxito da guerrilha. Uma vez tendo obtido a vantagem decisiva de ter a população a seu lado, por que haveria o rebelde de abandonar esse fator, que lhe conferiu a fluidez e a liberdade de ação que as forças legais não podem alcançar?
A doutrina de fronteira
Todos os países são divididos, para fins administrativos, em Estados, Municípios, Distritos, Zonas, etc. As áreas fronteiriças são um constante fator de fraqueza para as forças legais, quaisquer que sejam as estruturas administrativas. Essa vantagem é, quase sempre, explorada pelos rebeldes, principalmente nos estágios iniciais da rebelião. Passando de um para o outro lado das fronteiras, o rebelde pode, com freqüência, escapar à pressão e, pelo menos, complicar as operações para o seu adversário. Operar nos limites das fronteiras seja entre países ou Estados, é, para o rebelde, uma questão de doutrina.
As condições geográficas
O papel da geografia, importante numa guerra convencional, pode tornar-se decisivo numa Guerra Revolucionária. Se o rebelde, com sua debilidade inicial, não conseguir tirar partido da geografia, é bem possível que seja logo eliminado.

Alguns efeitos de fatores geográficos são fatores decisivos, como a localização do país, sua extensão e configuração, as fronteiras internacionais, o terreno, o clima, o tamanho da população e o grau de desenvolvimento e sofisticação da economia.
Apoio Exterior
O apoio exterior a uma Guerra Revolucionária pode tomar as seguintes formas:

- Apoio Moral - desse apoio o rebelde se beneficiará sem qualquer esforço, desde que sua causa se coadune com “os ventos da História”. Por exemplo: na luta pela libertação de Angola e pelo fim do apartheid na África do Sul, os rebeldes se beneficiaram de um considerável apoio moral, que se expressou, fundamentalmente, pelo peso da opinião pública internacional e dos meios de comunicação. A propaganda é o principal instrumento de apoio moral. É usada para fermentar a opinião pública quando esta se mostra adversa, ou para reforçar a simpatia do povo, se existente;
- Apoio Político - representa uma aplicação direta de pressão sobre as forças legais, ou indireta, mediante ações diplomáticas nos fóruns internacionais. Nesse sentido, recorde-se que no caso de Angola muitos países romperam relações diplomáticas com Portugal que, também, foi excluído de várias organizações internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho, por exemplo;
- Apoio Técnico - pode consumar-se na forma de assessoria ao rebelde para a organização do movimento e para a condução de suas operações políticas e militares, ou pode ser simples treinamento militar, como ocorreu com o núcleo que a partir de 1966 se instalou no Araguaia, que recebeu treinamento militar em Pequim;
- Apoio Financeiro - pode ser aberto ou encoberto. A Intentona Comunista, por exemplo, recebeu decisivo apoio financeiro do Komintern, sendo que até Luiz Carlos Prestes era um assalariado da 3ª Internacional, conforme está documentado no livro “Camaradas”, escrito por William Waack.
- Apoio Militar - seja através de uma intervenção direta, ao lado dos rebeldes, seja pelo fornecimento de equipamento e meios de treinamento. Um número considerável de terroristas urbanos brasileiros, por exemplo - cerca de 250 -, nas décadas de 60 e 70, recebeu treinamento militar e apoio financeiro do Estado cubano.
Todavia, nenhum apoio exterior é de absoluta necessidade no início de uma rebelião, embora sua utilidade seja inegável, pois a fase militar inicial de uma rebelião, seja ela terrorismo urbano ou rural, pouco exige em matéria de equipamentos, armas, munições e explosivos, já que esses produtos são encontrados localmente, podem ser expropriados ou contrabandeados.
Entretanto, quando o rebelde vislumbra o momento de passar para uma forma mais complexa de operações, a necessidade de suprimentos maiores e mais variados torna-se aguda. Ou ele os captura das forças legais ou esses suprimentos terão que ser obtidos no exterior. Sem eles, o desenvolvimento do poderio militar rebelde torna-se impossível. Todavia, por outro lado, se o auxílio exterior puder ser obtido com excessiva facilidade, isso poderá introduzir um excesso de confiança nas fileiras rebeldes, o que se tornaria um fator de debilidade tão logo esse auxílio, por qualquer motivo, fosse interrompido.
Concluindo, a SITUAÇÃO IDEAL PARA O REBELDE será: uma causa; uma fraqueza política ou administrativa do governo; um ambiente geográfico não muito hostil; apoio externo nos estágios médio e final da rebelião. As duas primeiras situações são indispensáveis, e a última poderá tornar-se uma necessidade.    
Essas características gerais da Guerra Revolucionária constituem um produto inelutável desse tipo de guerra. Um rebelde ou um governo (força legal) que conduza a guerra de forma oposta a quaisquer das características acima enunciadas, certamente será derrotado ou, pelo menos, diminuirá em muito suas possibilidades de êxito.
Num Estado Democrático de Direito, a teoria prevalecente é a de que os atos terroristas de uma guerra irregular sejam qualitativamente idênticos às violações diárias “normais” das leis. Esse é o principal problema que o Estado de Direito enfrenta ao combater o inimigo na guerra irregular. No Estado de Direito existem dois tipos de pessoas: o cidadão correto e o criminoso. O terceiro tipo de pessoa, aquele que conduz uma guerra irregular, para o Estado de Direito, não existe.
Aqueles que promovem uma guerra irregular não conhecem quaisquer obrigações, pois nada os submete à obediência da lei civil e nada há que os submeta às leis da guerra. Em contraposição, o Estado de Direito é submetido a todos esses aspectos. E mais: aqueles que promovem a guerra irregular podem explorar totalmente as possibilidades jurídicas que lhes são proporcionadas pelo Estado Democrático de Direito.
Em suma, a Guerra Revolucionária é uma guerra suja e nela são empregados todos os meios. Até mesmo os legais.


Carlos Ilich Santos Azambuja é historiador.

O ideal totalitário que ainda hoje assombra a América é o comunista. Ele está ativo e exerce poder pelo voto em mais de uma dezena de países que, aos poucos, são afastados da democracia e seus valores. No poder ou fora dele, os principais adversários que essa esquerda desvairada pretende eliminar são sempre os mesmos: a instituição familiar conforme a ordem natural, as Igrejas cristãs tradicionais e a católica em particular, e as Forças Armadas. O caso do Brasil, exemplo diretamente sob nossos olhos, é clara evidência do que afirmo.

São antagonismos facilmente explicáveis. Quem pretenda subverter determinada ordem para impor outra (como exige o ideal totalitário) precisa, essencialmente, destruir as estruturas através das quais se reproduzem, nos indivíduos, os valores que lhe deem consistência. As três estruturas mencionadas acima - Família, Igreja e Forças Armadas - são como pilares, vigas e lajes de uma sociedade. Daí a persistência dos ataques que lhes são dirigidos. O ideal totalitário investe contra a instituição familiar por dois flancos. Num deles, tenta fazer da família uma coisa qualquer. No outro, busca transformar uma coisa qualquer em família. Os inimigos da Igreja não querem apenas eliminar qualquer expressão externa de sua existência. Querem, principalmente, como se a ordem jus-política prescindisse de um fundamento moral, eliminar a influência dos valores cristãos na moral social e, por via de consequência, no ordenamento jurídico dos povos. A nova ordem que os fascina precisa de uma moral sem fundamentos.
As Forças Armadas, armadas e fortes, por vocação e formação de seus quadros, são exemplos sociais de ordem e disciplina a serviço da segurança e da paz. É visível o empenho do governo e seu partido em vilipendiá-las, em lhes suprimir recursos humanos, financeiros e materiais. Trata-se de conduta não oficial, mas efetiva, dos que desfilam sua bazófia e arrogância pelo país, como se proprietários dele fossem todos os seus ocasionais dirigentes e militantes. O grupo hoje instalado no poder, que perdeu o confronto com as Forças Armadas nos anos 60 e 70, vai à forra usando o aparelho do Estado. No entanto, em que pese todo o mal que lhes podem fazer e fazem, todas as mentiras que a respeito delas podem repetir e repetem, o povo brasileiro preserva as Forças Armadas como a segunda entre as 18 instituições mais confiáveis do país (a primeira, por motivos óbvios, é o Corpo de Bombeiros). As FFAA contam com a confiança de 66% da sociedade segundo o Índice de Confiança Social medido em 2013 pelo Ibope. Imagino o quanto deve ser difícil para quem há mais de meio século vem tentando desmoralizar as Forças Armadas, ver seus próprios líderes sendo presos e a sociedade dedicando aos silenciosos militares brasileiros o merecido respeito e confiança.

Retorno ao ponto inicial. Vociferam incessantemente contra as convicções cristãs. Contra elas põem nas ruas as trupes de pelados, as vadias que se requebram com símbolos sacros, seus projetos de aborto, suas cartilhas e paradas gays, e outras tantas frentes de combate. Embora façam tudo isso e muito mais, as Igrejas persistem em terceiro lugar entre as instituições mais confiáveis segundo o sentimento nacional.

“E quanto à instituição familiar, o terceiro alvo preferencial do ideal totalitário?", indagará o leitor. Pois é. No universo da pesquisa (que também envolve as relações individuais/sociais dos entrevistados), a boa e velha família dispara em primeiríssimo plano, contando com a confiança de 90% das pessoas.

Alegrou-me conhecer esses dados. Eles me permitiram confrontar o empenho dos adeptos do ideal totalitário com os resultados até agora colhidos na sua tarefa de demolição. Mesmo sem revides, mesmo contando com a indiferença de tantos, mesmo que "... os filhos das trevas sejam mais astutos que os filhos da luz" (Lc 16,8), ainda há muito espaço para resistência.



comnazA declaração clama:
1- Levar a toda Europa o entendimento de que os regimes totalitários nazista e comunista precisam ser julgados por seus próprios e terríveis méritos, isto é, por suas políticas destrutivas impostas mediante a aplicação sistemática de formas extremas de terror e a supressão de todas as liberdades civis e humanas, pela eclosão de guerras agressivas e — como parte inseparável de suas ideologias — pelo extermínio e deportação de nações inteiras e de grandes grupos populacionais; e por tudo isso tais regimes devem ser considerados os principais desastres que macularam o século 20;
2- O reconhecimento de que muitos crimes cometidos em nome do comunismo devem ser considerados crimes contra a humanidade, servindo portanto como um aviso para as gerações futuras, tal como os crimes nazistas foram considerados pelo Tribunal de Nuremberg;
3- A formulação de uma abordagem comum sobre os crimes dos regimes totalitários, nomeadamente dos Regimes Comunistas, e a ampliação em toda a Europa da consciência relativa a esses crimes comunistas, definindo claramente uma atitude comum para com eles;
4- A introdução de legislação que dê permissão aos tribunais para julgar e punir os perpetradores dos crimes comunistas e compensar suas vítimas;
5- Garantir o princípio da igualdade de tratamento e não discriminação das vítimas de todos os regimes totalitários;
6- A pressão europeia e internacional para a condenação efetiva dos crimes comunistas do passado e para a luta eficaz contra os crimes comunistas em curso;
7- O reconhecimento do comunismo como parte integrante e terrível da história comum da Europa;
8- A aceitação da responsabilidade pan-europeia nos crimes cometidos pelo comunismo;
9- O estabelecimento do dia 23 de Agosto, o dia da assinatura do pacto Hitler-Stalin, conhecido como o Pacto Molotov-Ribbentrop, como o dia de recordação das vítimas de ambos os regimes totalitários, os regimes nazista e comunista, tal como a Europa recorda as vítimas do Holocausto em 27 de janeiro;
10- Atitudes responsáveis dos Parlamentos Nacionais no que se refere ao reconhecimento dos crimes comunistas como crimes contra a humanidade, levando a uma legislação apropriada, e ao monitoramento parlamentar dessa legislação;
11- O debate público eficaz sobre o uso comercial e político indevido dos símbolos comunistas;
12- A continuação das audiências da Comissão Europeia sobre as vítimas de regimes totalitários, com vista à elaboração de uma comunicação da Comissão;
13- O estabelecimento em países europeus, que tenham sido governados por regimes comunistas totalitários, de comitês compostos por peritos independentes, com a tarefa de recolher e avaliar informações sobre as violações dos direitos humanos a nível nacional sob o regime comunista totalitário, com vistas a colaborar estreitamente com um comitê de especialistas do Conselho da Europa;
14- Assegurar um quadro jurídico internacional claro visando um acesso livre e irrestrito aos arquivos que contêm informações sobre os crimes do comunismo;
15- A criação de um Instituto da Memória e Consciência Europeias;
16- A organização de uma conferência internacional sobre os crimes cometidos pelos regimes comunistas totalitários, com a participação de representantes de governos, parlamentares, acadêmicos, especialistas e ONGs, com resultados a serem amplamente divulgados em todo o mundo;
17- O ajuste e revisão de livros de história da Europa para que as crianças possam aprender e ser alertadas sobre o comunismo e seus crimes, tal como são ensinadas a avaliar os crimes nazistas;
18- O debate amplo e minucioso em toda a Europa da história e do legado comunista;
19- A comemoração conjunta no próximo ano do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, do massacre da Praça Tiananmen e das mortes na Romênia;
A declaração cita a Resolução 1481 do Conselho da Europa, bem como “resoluções sobre os crimes comunistas adotadas por vários parlamentos nacionais”. A Declaração foi precedida pela Audiência Pública Europeia sobre Crimes Cometidos por Regimes Totalitários.



Tradução: Yuri Vieira