sábado, 2 de junho de 2018

J.M.J. – 2018/06/02:
As generalizações são obras naturais da mente humana. Todavia sua transposição a ordens diversas das quais são naturais causa os maiores erros e estragos nas concepções e naquilo que, destas, deriva. Uma dessas generalizações é a de que o amor e o ódio andam juntos, ou são como que transcendentais - no sentido de convertíveis -, ou mesmo que se tocam. Nada mais falso! No caso, se amor e ódio são tomados na ordem dos sentimentos, o que impulsiona a um e a outro pode ter uma comunidade de origem, mas terá um caudal de operações e ações que destoará – um do outro – na mesma proporção em que forem progredindo, sedimentando-se e gerando novas condutas. Neste sentido se pode transpor amor e ódio para o âmbito ético da vida. Se se tomar, ao invés, amor e ódio como tais – fruto do entendimento e da vontade relativos ao bem ‑, aí as dissemelhanças são mais nítidas, mais profundas, mesmo intocáveis, tendo como única comunidade sua fonte comum (intelecto e vontade). No primeiro caso (do amor e ódio na ordem dos sentimentos) ambos os opostos continuam no mesmo gênero, o que lhes dá a possibilidade da comunidade das propriedades desse mesmo gênero, facultando as confusões tão comuns de acepções e derivações. No último (do amor e ódio na ordem da inteligência e da vontade) ambos os opostos somente comungam da fonte, mas tem sua individualidade, sua espécie e seu gênero totalmente distintos, irreconciliáveis e intangíveis um ao outro. Aqui a raiz, que beira à metafísica, muito se parece com a ordem transcendental das coisas onde somente aquilo que é pleno é capaz de convertibilidade como o bem ao uno, ao verdadeiro, ao belo, à ordem e ao ser. Por isso que – analogamente – por exclusividade, só o ente (em sua multívoca acepção e realização) é capaz de ser objeto próprio do amor como aquilo ao que ele adere, ou pode aderir. O ódio, embora tenha esse tal ente em seu espectro, a nada se liga, vagando indefinidamente, ocasionando as mais díspares realidades também vacantes e vagantes que, como ele, a nada tendem a se ligar – salvo acidentalmente, e não por força do ódio mesmo ‑. Por isto respeitar as generalizações em suas ordens devidas é proporcionar a condição de possibilidade de raciocínios equilibrados, adequados, verdadeiros e legitimamente progressivos, sem se esquecer que divorciada da vontade autárquica (dos sentimentos) e coadjuvante a inteligência não costuma acertar muito. (A.M.D.G.)