segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Marx contra Proudhon

IPOJUCA PONTES | 20 DEZEMBRO 2010

Provavelmente para dissimular a vultosa dívida contraída com o pensamento alheio e esconder a fonte de inspiração em que bebeu, Marx cola na testa de Proudhon a etiqueta de "ideólogo da pequena-burguesia", a ser repetida indefinidamente pelos acólitos fanatizados.

Depois da publicação de "O que é a propriedade?", sabe-se, Marx tentou aliciar Proudhon, por carta, convidando-o a integrar a corriola do Comitê Comunista de Correspondência, base da futura Liga Comunista (sediada em Bruxelas). Mas na carta, em que pese elogiar Proudhon, o "Doutor do Terror Vermelho" não consegue disfarçar o caráter virulento e ataca um discípulo deste, Karl Grun (inventor de mais um tipo de socialismo - o "socialismo verdadeiro"), a quem considera um tipo suspeito. Proudhon não apenas recusa o convite, como defende Grun e adverte Marx quanto ao caráter violento e nocivo do seu dogma revolucionário.

Além do mais, para desconforto dos "socialistas científicos", Proudhon zomba da dialética hegeliana, considerando-a mera pílula-de-miolo-de-pão. Diz ele em "La Guerre et la Paix" (Editora Tops/H. Trinquier. Paris, 2000), obra admirada por Tolstoi e que e o levou a homenageá-la como título do seu romance:

O equilíbrio instável entre dois termos (tese e antítese), não nasce de um terceiro, mas de sua ação recíproca. A fórmula hegeliana só é uma tríade por prazer ou erro de Hegel, que vê três termos onde só existem dois e que não viu que a antinomia não se resolve. Com o seu sistema, Hegel só chega ao absolutismo governamental, à onipotência, à subalternização dos indivíduos e dos grupos. Pergunto-me se, devido a esta faceta de sua filosofia, Hegel conservou um único partidário na Alemanha".

E para ampliar o abismo que aprofundou em definitivo a inimizade entre ambos, o anarquista francês cria dialética própria, que rejeita a síntese hegeliana e procura "equilíbrios nas diversidades" e a integração dessas diversidades em "totalidades". A dialética, que Proudhon chama de "antinômica", serve como método para a construção do "Sistema de Contradições Econômicas" (Paris, 1846), e permite a um tempo encarar a propriedade como sendo "produto espontâneo da sociedade e a dissolução desta mesma sociedade" ou, o que dá no mesmo, entender que a "propriedade é a liberdade e a propriedade é o roubo". Como a dialética proudhoniana não admite nenhum tipo de síntese, os elementos antagônicos que movem a história formam "equilíbrios imprevistos" - esses, por sua vez, em permanente estado de ebulição.

Marx acusou Proudhon de nunca ter entendido Hegel, embora ele próprio fosse crítico severo da dialética hegeliana, que achava não passar de mera "manifestação de raciocínio". Em "Miséria da Filosofia" (1847), resposta ao "Sistema de Contradições Econômicas" (livro que na verdade serve de modelo para "O Capital"), ele dá o troco, à moda da casa, cuspindo no prato que comeu, sem nenhum resquício de respeito ou gratidão. Provavelmente para dissimular a vultosa dívida contraída com o pensamento alheio e esconder a fonte de inspiração em que bebeu, Marx cola na testa de Proudhon a etiqueta de "ideólogo da pequena-burguesia", a ser repetida indefinidamente pelos acólitos fanatizados. Curiosamente, atribui a Proudhon os seus próprios defeitos, entre eles o de ser um tipo "excessivamente vaidoso" e "pavão prepotente".

Tudo até aqui levantado não traz nenhuma novidade. A leitura anotada de uma trintena de livros, entre eles os de Marx, poderá levar o interessado a conclusões semelhantes ou parecidas. Na prática, a teoria que envolve o "socialismo científico" de Marx mostrou-se tão pouco científica como qualquer outra e - o que já é lugar comum afirmar - suas "leis", "tendências" ou "previsões" históricas jamais se cumpriram sequer remotamente. Superado o ciclo do historicismo determinista, e com ele as irrealistas projeções econômicas, os próprios membros da seita trataram de enfiar a viola no saco e partir para a institucionalização da "crítica cultural", elegendo o infinito conceito da "alienação" como novo objeto de culto. São, por assim dizer, os sanguessugas de Marx, repetindo em bloco o mesmo que o "mestre" fez com Hegel, Feuerbach, Proudhon e tantos outros.

A igreja mais operante dessa nova fauna é, se não já era - ao lado das elucubrações teóricas erguidas pelo templário Antonio Gramsci (1891-1937) em torno da "revolução passiva" -, a Escola de Frankfurt, curiosamente erguida com o dinheiro de Hermann Weil, capitalista e explorador do trigo (e da mão-de-obra barata) argentino. Da cátedra da "Escola", os seus integrantes mais notáveis (alguns deles filhos de banqueiros e milionários), diante da crescente supremacia do capitalismo, atiram sofisticados petardos contra o que julgam ser a "estrutura dominante" da sociedade industrial contemporânea. Um dos seus mais destacados mentores, Theodor Adorno (1903-1969) - que morreu de enfarte após uma aluna ter ficado nua na sala de aula para testar o grau de sinceridade do mestre pelas liberdades individuais por ele proclamadas - era taxativo em afirmar ("Dialética Negativa", 1966), por meio da "ênfase dramática", que o mundo e as consciências viviam alienados e não tinham mais salvação, apontando a concentração do capital, o planejamento burocrático e a máquina "reificadora" da cultura de massa como forças destruidoras das liberdades individuais (vindo daí, naturalmente, todo o arsenal crítico mais pretensioso contra Hollywood).

Hoje, em que pese a suposta derrocada da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, além da falência de Cuba e o assentimento da China ao capitalismo de Estado, o "pensamento" de Marx, contra todas as evidências da insensata experiência comunista, permanece ativo e continua a causar estragos e até a apresentar-se como "hegemônico", sobretudo no espaço retardatário da descarnada América Latina. É purononsense, mas pelo menos no Brasil é inquestionável a supremacia da dogmática marxista, pois o país tornou-se o espaço vital onde milhares e milhares de militantes esquerdistas, comandada por uma máquina bem-azeitada e nutrida nos fundos públicos (com recursos subtraídos a muque do bolso do trabalhador e dos empresários contribuintes), atuam sistemática e proficuamente dentro do aparelho do Estado, nas cátedras, parlamentos, púlpitos, quartéis, tribunais, mídias, associações civis e militares, sindicatos, prisões, ONGs, palcos, telas e até prostíbulos, com o objetivo único e irreversível de "socializar" a nação. Tal qual uma Cuba ou Coréia do Norte, o Brasil consolidou a imagem de ser uma economia das mais centralizadas do planeta, onde nada se faz sem o beneplácito do governo.

De fato, sob o ditame da mistificação marxista, o Brasil atolou-se na miséria física e espiritual, coisa que trataremos de demonstrar no nosso próximo e último artigo sobre "Marx e o pensamento dos outros".

http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/11700-marx-contra-proudhon.html, 20/12/10.

QSS.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Falta de Respeito

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 10 de dezembro de 2010

Por que devemos consentir em continuar chamando de “Sua Excelência, o Senhor Ministro da Educação” um semi-analfabeto que não sabe sequer soletrar a palavra “cabeçalho”? Por que devemos continuar adornando com o título de “Sua Excelência, o Senhor Ministro da Defesa” um civil bocó que se fantasia de general sem nem saber que com isso comete ilegalidade? Por que devemos honrar sob a denominação de “Sua Excelência, o Senhor Ministro da Cultura” um pateta sem cultura nenhuma? Por que devemos curvar-nos ante a magnificência presidencial de um pervertido que se gaba de ter tentado estuprar um companheiro de cela e diz sentir nostalgia do tempo em que os meninos do Nordeste tinham – se é que tinham – relações sexuais com cabritas e jumentas?

Essas criaturas, é certo, têm o direito legal a formas de tratamento que as elevam acima do comum dos mortais, mas até quando nossos nervos suportarão o exercício supremamente antinatural e doentio de fingir respeito a pessoas que não merecem respeito nenhum, que só emporcalham com suas presenças grotescas os cargos que ocupam? Respeito, afinal de contas, é noção hierárquica: sem o senso da distinção entre o melhor e o pior, o alto e o baixo, o excelso e o vulgar, não há respeito possível. Nietzsche já observava: Quem não sabe desprezar não sabe respeitar. Se um sujeito que só merece desprezo aparece envergando um uniforme, ostentando um título, exibindo um crachá que o diz merecedor de respeito, estamos obviamente sofrendo uma agressão psicológica, um ataque de estimulação contraditória, ou dissonância cognitiva, que esfrangalha o cérebro mais vigoroso e reduz ao estado de cãezinhos de Pavlov as mentes mais lúcidas e equilibradas. Um povo submetido a esse regime perde todo senso de gradação valorativa, todo discernimento moral. Prolongado o tratamento para além de um certo ponto, a sociedade entra num estado de desmoralização completa, de apatia, de indiferentismo, onde só os mais cínicos e desavergonhados podem sobreviver e prosperar.

Mas não é só nas pessoas que o encarnam que o presente governo é uma usina de estimulações desmoralizantes. Impondo a sodomia como o mais sacrossanto e incriticável dos atos, as invasões de terras como modalidade superior de justiça fundiária, o abortismo como dever de caridade cristã, a distribuição de pornografia às crianças como alta obrigação pedagógica, Suas Excrescências estão fazendo o que podem para sufocar, na alma do povo brasileiro, toda capacidade de distinguir entre o bem e o mal e até a vontade de perceber essa distinção.

Nunca, na história de país nenhum, se viu uma degradação moral tão rápida, tão geral e avassaladora. Os crimes mais hediondos, as traições mais flagrantes, os escândalos mais intoleráveis são aceitos por toda parte não só com indiferença, mas com um risinho de cumplicidade cínica que, nesse ambiente, vale como prova de realismo e maturidade.

Em cima de tudo, posam as personalidades mais feias e disformes, ante as quais mesmo homens sem interesses obscuros em jogo se sentem obrigados a debulhar-se em louvores e rapapés.

Num panorama tão abjeto, destacam-se quase como um ato de heroísmo as manifestações de desrespeito ostensivo com que os estudantes da Universidade de Brasília saudaram, na inauguração do “beijódromo”, o presidente da República, seu ministro da Incultura e o reitor José Geraldo Souza Júnior.

Que é um “beijódromo”, afinal? Idéia suína concebida na década de 60 por Darci Ribeiro, um dos intelectuais mais festeiros e irresponsáveis que já nasceram neste país, então deslumbrado com a doutrina marcusiana da gandaia geral como arma da revolução comunista, o “beijódromo” é um estímulo à transformação da universidade em espaço lúdico-erótico onde um governo de vigaristas possa obter ganhos publicitários explorando calhordamente os instintos lúbricos da população estudantil, assim desviada dos deveres mais óbvios que tem para consigo mesma e para com o país. Meu caro amigo Reinaldo Azevedo assim resumiu o caso: “Um estado totalitário reprime o tesão. Um estado demagogo o estatiza.” Peço vênia para discordar. Excetuados os países islâmicos, só alguns regimes autoritários, de natureza transitória, ousaram impor a repressão sexual. A exploração estatal do erotismo é característica inconfundível dos regimes totalitários e revolucionários. Quem tenha dúvida fará bem em percorrer as 650 páginas do estudo magistral de E. Michael Jones, Libido Dominandi: Sexual Liberation and Political Control (St. Augustine’s Press, 2000). O “beijódromo” é a cristalização mais patente de um totalitarismo em gestação.

Os gritos e insultos com que Lula foi recebido por estudantes que querem algo mais que pão, circo e orgasmo, refletem um fundo de sanidade que ainda resta na alma popular: nem todos os cérebros, neste país, estão perfeitamente adestrados na arte de bajular o que não presta.

Esse protesto impremeditado, espontâneo, sem cor ideológica definida, traz a todos os brasileiros a mais urgente das mensagens: no estado de degradação pomposa a que chegamos, só uma vigorosa falta de respeito pode nos salvar.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/101210dc.html, acessada em 19/12/10.

QSS.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O estilo é Dom Rixem

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 11 de outubro de 2010

O estilo é o homem – e a distinção estilística fundamental, nos debates públicos, é entre a linguagem que apela à experiência pessoal do leitor e aquela que visa a produzir uma impressão direta, pela pura carga semântica das palavras – e dos jogos de palavras –, omitindo ou até bloqueando o acesso à experiência.

O primeiro desses estilos não faz do seu usuário a voz de Deus, mas o segundo é inconfundivelmente diabólico, já que só serve para mentir e ludibriar, inscrevendo-se portanto, de perto ou de longe, na linhagem do Pai da Mentira. Uma mas maneiras mais eficazes de praticá-lo é embutir no texto algumas contradições bem camufladas, de modo que, não as percebendo à primeira vista, o leitor acabe engolindo a pílula pela simples razão de que seu cérebro, paralisado pela dificuldade lógica mal conscientizada, não encontra por onde discordar de quem lhe diz, ao mesmo tempo, sim e não. É o que costumo chamar de "contradição estupefaciente": aquela que persuade não a despeito de ser absurda, mas precisamente porque é absurda.

Não espanta, pois, que tal seja o estilo dos sacerdotes e pregadores intoxicados de Teologia da Libertação, uma escola de pensamento que até David Horowitz, um estudioso judeu totalmente alheio ao meio católico, percebeu imediatamente ser uma seita satânica.

Todo o esforço da Teologia da Libertação resume-se em aviar a receita de Antonio Gramsci, segundo a qual a Igreja Católica não deve ser combatida, mas infiltrada, dominada desde dentro, esvaziada de seu conteúdo espiritual tradicional e usada como instrumento da política comunista.

Submetido a essa dieta por algumas semanas, você está pronto para acreditar que a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo coincide em gênero, número e grau com a dos maiores assassinos de cristãos que já houve no mundo: Lênin, Stálin, Mao Dzedong, Pol-Pot, Ho Chi Minh, Che Guevara e Fidel Castro.

Você não aceitaria isso se viesse da boca de qualquer um, mas, proferida com a autoridade de um prelado da Santa Madre Igreja, a proposta indecente suscita no cérebro humano uma reação paradoxal: você imagina que um homem de Deus jamais pregaria coisas tão chocantes, tão manifestamente absurdas e blasfemas. Ato contínuo, você diz a si mesmo que por trás da contradição brutal deve haver alguma coerência profunda, mística, inacessível à percepção comum. Não conseguindo elaborar o enigma por meios conscientes, você transfere automaticamente o serviço para a fantasia onírica, um mundo de analogias onde há somente imagens concretas e onde não penetra a diferenca entre "sim" e "não" (um fenômeno bem conhecido dos hipnologistas), o que torna impossível apreender a distinção entre analogia direta e analogia inversa: aí já não há mais diferença entre morrer pelos seus irmãos, como ensinava Cristo, e tornar-se, como propunha Che Guevara, uma "eficiente e fria máquina de matar". Entre as névoas do sonho, não só o assassinato em massa de cristãos adquire o prestígio de um sacrifício divino, mas já não há distinção de mérito entre os que deram a vida e os que a tiraram. A vaga semelhança física entre o retrato de Che Guevara e a figura estereotipada de Jesus Cristo faz o resto.

Um exemplo didático do emprego da contradição estupefaciente vem na mensagem de Dom Eugênio Rixem, bispo de Goiás e responsável pela Comissão de Catequese da CNBB, contra os apelos de padres católicos para que seus paroquianos não votem em candidatos abortistas.

"A Igreja Católica, como já disse numa carta anterior, não apóia nenhum candidato", afirma o referido.

Linhas adiante, pontifica: "O que está em questão nestas eleições são dois projetos diferentes sobre o futuro do nosso país. Um que defende os interesses dos pobres, mais justiça social e melhor distribuição de renda nacional. Outro, quer manter os privilégios daqueles que sempre marginalizaram a classe dos excluídos."

É verdade que a Igreja não apóia nenhum candidato, mas dom Rixem apóia. O contraste maniqueísta entre os bonzinhos e os malvados, descrito nos precisos termos da propaganda petista – e sem a mais mínima prova de que a candidata dos banqueiros seja uma digna representante dos pobres, coisa em que só um petista fanático pode acreditar –, não deixa margem a dúvidas quanto às suas preferências. Ele as expõe, novamente, na linguagem estereotipada da retórica petista, mas, em vez de fazê-lo em nome de si mesmo, apela ao plural majestático: "Queremos um país com mais justiça social, terra para os pobres, o limite de propriedade de terra, a defesa do meio ambiente, especialmente do cerrado, tão agredido pelo agronegócio." Queremos? Quem é o sujeito da frase? Evidentemente, a entidade coletiva em nome da qual dom Rixem fala: a Igreja Católica – aquela mesma que não apoiava nenhum candidato mas que, pelo milagre da contradição estupefaciente, aparece agora como adepta incondicional de Dilma Roussef.

"Sim, sim, não, não", ordenava Jesus Cristo: "O mais é conversa do demônio."

Quem quer que use a linguagem da contradição estupefaciente desqualifica-se no ato, não só como pregador da doutrina de Cristo, mas como simples interlocutor honesto e digno de crédito.

Se você quer mesmo acreditar no irracional, por favor escolha algo de mais inofensivo: acredite em duendes, acredite em discos voadores, acredite em Papai Noel, mas não acredite em Dom Rixem.

Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/semana/101011dc.html

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QSS

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A MÃO DE STALIN ESTÁ SOBRE NÓS

Olavo de Carvalho
O Globo, 03 de agosto de 2002

Neste país há três e não mais de três correntes políticas organizadas: o socialismo fabiano que nos governa, o socialismo marxista e o velho nacional-esquerdismo janguista.

O socialismo fabiano distingue-se do marxista porque forma quadros de elite para influenciar as coisas desde cima em vez de organizar movimentos de massa. Seu momento de glória veio com a administração keynesiana de Roosevelt, que, a pretexto de salvar o capitalismo, estrangulou a liberdade de mercado e criou uma burocracia estatal infestada de comunistas, só sendo salva do desastre pela eclosão da guerra. O think tank mundial do fabianismo é a London School of Economics, parteira da “terceira via”, uma proposta da década de 20, periodicamente requentada quando o socialismo revolucionário entra em crise e é preciso passar o trabalho pesado, temporariamente, para a mão direita da esquerda. No poder, os fabianos dão uma maquiada na economia capitalista enquanto fomentam por canais aparentemente neutros a disseminação de idéias socialistas, promovem a intromissão da burocracia em todos os setores da vida (não necessariamente os econômicos) e subsidiam a recuperação do socialismo revolucionário. Quando este está de novo pronto para a briga, eles saem de cena envergando o rótulo de “direitistas”, que lhes permitirá um eventual retorno ao poder como salvadores da pátria se os capitalistas voltarem a achar que precisam deles para deter a ascensão do marxismo revolucionário. Então novamente eles fingirão salvar a pátria enquanto salvam, por baixo do pano, o socialismo.

Desde seus fundadores, Sidney e Beatrice Webb, o fabianismo nunca passou de um instrumento auxiliar da revolução marxista, incumbido de ganhar respeitabilidade nos círculos burgueses para destruir o capitalismo desde dentro. Os conservadores ingleses diziam isso e eram ridicularizados pela mídia, mas a abertura dos Arquivos de Moscou provou que o mais famoso livro do casal não foi escrito pelo marido nem pela esposa, mas veio pronto do governo soviético.

A articulação dos dois socialismos era chamada por Stalin de “estratégia das tesouras”: consiste em fazer com que a ala aparentemente inofensiva do movimento apareça como única alternativa à revolução marxista, ocupando o espaço da direita de modo que esta, picotada entre duas lâminas, acabe por desaparecer. A oposição tradicional de direita e esquerda é então substituída pela divisão interna da esquerda, de modo que a completa homogeneinização socialista da opinião pública é obtida sem nenhuma ruptura aparente da normalidade. A discussão da esquerda com a própria esquerda, sendo a única que resta, torna-se um simulacro verossímil da competição democrática e é exibida como prova de que tudo está na mais perfeita ordem.

No governo, nossos fabianos seguiram sua receita de praxe: administraram o capitalismo como se fossem capitalistas, ao mesmo tempo que espalhavam a doutrinação marxista nas escolas, demoliam as Forças Armadas, instituíam novas regras de moralidade pública inspiradas no marxismo cultural da Escola de Frankfurt, neutralizavam por meio da difamação midiática as lideranças direitistas, criavam um aparato de repressão fiscal destinado a colocar praticamente fora da lei a atividade capitalista e, last not least, subsidiavam com dinheiro público o crescimento do MST, a maior organização revolucionária que já existiu na América Latina. Em suma: fingiam cuidar da saúde do capitalismo enquanto destruíam suas bases políticas, ideológicas, culturais, morais, administrativas e militares, deixando o leito preparado para o advento do socialismo. Fizeram tudo isso sob o aplauso de uma classe capitalista idiota, incapaz de enxergar no capitalismo nada além da sua superfície econômica e ignorante de tudo o que é preciso para sustentá-la. Agora podem ir para casa, seguros de ter um lugar ao sol no socialismo, se ele vier amanhã, assim como no capitalismo, se ele durar mais um pouco.

Se o socialismo marxista tinha sua encarnação oficial no Estado soviético, enquanto o fabianismo era o braço “light” da estratégia stalinista, o nacional-esquerdismo que brotou na década de 30 também foi substancialmente uma invenção de Stalin. A grande especialidade de “tio Josef” era justamente o problema das nacionalidades, ao qual ele dedicou um livro que se tornou clássico. Foi ele que criou a estratégia de fomentar ambições nacionalistas, quando podia usá-las contra as potências ocidentais, ou freá-las, quando se opunham ao “internacionalismo proletário”. É verdade que falhou em aplicá-la com os nazistas, que se voltaram contra a URSS, mas obteve sucesso nas nações atrasadas, onde xenófobos de todos os naipes -- getulistas, nasseristas, peronistas, africanistas e aiatolás variados -- acabaram se integrando nas tropas da revolução mundial, varrendo suas divergências ideológicas para baixo do tapete e transmitindo uma impressão de unidade a seus adeptos nos países ricos (donde o milagre de feministas e gays marcharem contra os EUA ao lado de machistas islâmicos). A multidão dos nacionalistas revoltados dá um reforço externo à estratégia das tesouras, seja como massa de manobra ou, quando fardada, como arma de guerra.

Stalin foi o maior estrategista revolucionário de todos os tempos. Os efeitos de sua ação criadora chegaram às terras tupiniquins e ainda estão entre nós.Todo o panorama político nacional está hoje montado segundo o esquema delineado por ele nos anos 30. Mas, dos poucos que têm envergadura intelectual para enxergar isso, quantos têm interesse de discuti-lo em público?

http://www.olavodecarvalho.org/semana/08032002globo.htm

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QSS

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"Desaprende a te maravilhar tanto com o que é humano" (Tântalo. Sófocles)

Com esta epígrafe externo meu último desalento com o que chamam de "debate", máxime em se tratando de temas ditos "polêmicos", termo este que encobre - em sua maioria - temas cujo conteúdo é torpe, hediondo, repugnante... e impossível a um ser humano de uso mínimo de suas faculdades mentais em são estado não os descobrir na antípoda da verdade. Neste sentido - da verdade -, que já não faz mais sentido em "debates", é que mais se torna improfícua qualquer "participação" nos chamados "debates", verdadeiros berros de uma nota só, de um termo só, mas de um estupro continuado da inteligência humana, da consciência moral, da boa lógica. Ah... esta também, já alijada há tempos - por coerência, claro - desses "debates". Portanto, os tais "debates" têm se mostrado como continuadas tentativas de forçar a quem - por sanidade - não consegue engolir, mesmo sob eufemismo, os chamados "temas polêmicos". Para ilustrar o que quero dizer, do que se vivencia há bom tempo, transcrevo - em desabafo - as palavras abaixo
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Debate pré-moldado
Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 29 de março de 2007

“Moldar o debate” é a técnica usada por grupos de interesse para impedir que as discussões públicas apreendam a substância dos problemas e canalizá-las numa direção forçada, postiça, previamente calculada para servir aos objetivos do grupo.
Nos anos 70, essa técnica tirou os EUA do Vietnã, deixando o caminho livre para que os comunistas assassinassem três milhões de civis ali e no vizinho Camboja. O truque foi desviar a discussão do problema central -- a ameaça vietcongue – e concentrá-la no estereótipo da “paz”. A paz acabou matando quatro vezes mais gente do que a guerra, mas quem liga para isso?
Pelos mesmos meios foi liberado o aborto, escamoteando a questão essencial – o que é e como se faz um aborto – e fixando o debate na “liberdade de escolha”. Com ajuda de estatísticas falsas (o número de mulheres mortas em abortos ilegais nos EUA foi artificialmente esticado de 250 para dez mil por ano), a militância abortista dessensibilizou a opinião pública para o fato de que se tratava de matar, por meios inconcebivelmente cruéis e dolorosos, milhões de crianças aptas a sobreviver fora do ventre de suas mães a partir do quinto mês de gestação.
Uma nova fraude em massa está em vias de se consumar, agora no Brasil, pelo uso do mesmo engodo. O movimento gay planeja tornar o homossexualismo, por lei, a única conduta humana superior a críticas. É a pretensão mais arrogante e ditatorial que algum grupo social já acalentou desde o tempo em que os imperadores romanos se autonomearam deuses. Aprovada a PL 5003/2001, os brasileiros poderão falar mal de tudo – dos políticos, dos vizinhos, do capitalismo, da religião, de Deus, do diabo. Mas, se disserem uma palavra contra aquilo de que os homossexuais gostam, irão para a cadeia.
Esse é o sentido da lei, essa é a substância da proposta. Mas é proibido discuti-la. É obrigatório ater-se à escolha estereotipada entre “homofobia” e “anti-homofobia”. Homofobia, a rigor, é um sintoma psiquiátrico raríssimo. Quantas pessoas você conhece que têm horror aos homossexuais ao ponto de querer surrá-los ou matá-los pelo simples fato de serem homossexuais? Fazer da “homofobia” o centro do debate é obrigar todo mundo a chamar por esse nome pelo menos três coisas que não têm nada a ver com homofobia: a repulsa espontânea que a idéia de relações com pessoas do mesmo sexo inspira a muitos heterossexuais, repulsa que não implica nenhuma hostilidade ao homossexual enquanto pessoa e aliás é análoga à que tantos homossexuais têm pelo intercurso hetero, sem que ninguém os chame de “heterofóbicos” por isso; as objeções religiosas ao homossexualismo, que vêm junto com a proibição expressa de odiar os homossexuais; e a oposição política às ambições do grupo gay , tal como exemplificada neste mesmo artigo. Reunir tudo isso sob o nome de “homofobia” já é criminalizar a priori qualquer resistência ao desejo de poder da militância homossexualista, já é impor a lei antes de aprovada, manietando o debate por meio da intimidação e da chantagem. É embuste consciente e premeditado. A mídia nacional quase inteira é culpada disso.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/070329jb.html
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Faço minhas as palavras supras com toda atualidade que elas - infelizmente - podem ter e têm!
QSS

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Graves contradições do movimento homossexual

No 18º Congresso Mundial sobre a aids, em Viena, maciça presença de organizações homossexuais, ausência de personalidades políticas e crescente distanciamento do público

Carlos Eduardo Schaffer
Correspondente - Áustria

A chuva durante o baile

Viena — O grande baile (Life Ball) na praça diante da prefeitura de Viena, no sábado 17 de julho, marcou a abertura do 18º Congresso-AIDS. Dele participaram o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, o bilionário Bill Gates, a vistosa princesa Mette-Marit, esposa do príncipe herdeiro da Noruega, a atriz Whoopi Goldberg (ganhadora do Oscar) e Auma Obama, meia-irmã do presidente Barack Obama, além de cozinheiros e modistas de renome, cientistas premiados e outras personalidades - em suma, gente que não está à procura de votos. Ausentes os políticos europeus.

O propalado ativista homossexual Gery Keszler organiza anualmente o Life Ball. Trata-se de um espetáculo espalhafatoso destinado a angariar recursos contra a aids, mas que sobretudo difunde os estilos homossexuais.

Os dias anteriores ao evento foram de muito sol em Viena, mas o serviço meteorológico anunciara temporal para a hora do baile. Os organizadores, sem se importar com a previsão, não tomaram medidas para a eventualidade de chuva. E ela caiu violenta, com ventos e trovões. Todo aquele aparato de personalidades desapareceu, buscando refúgio. Sob maquiagens escorridas e penteados que se desfaziam, ensopavam-se trajes dispendiosos. O fato nem sequer mereceria ser narrado, se não fosse simbólico do estado psicológico dos participantes do congresso-aids: desdém da previsão e menosprezo da disciplina.

No dia seguinte iniciou-se o congresso. Presentes 25 mil especialistas em aids, ativistas do movimento homossexual, aidéticos, militantes de esquerda. O lema do congresso - Direitos aqui e já - é revelador da tríplice vantagem visada pelos ativistas: identificar o aidético como vítima marginalizada; tratamento mais eficaz contra o vírus da aids; e sobretudo mais dinheiro. Na falta de verbas para combater a aids, o movimento homossexual reivindica vantagens em nome dos direitos humanos. Para esse fim, cria-se propositalmente uma confusão entre aidéticos e homossexuais.

Direitos humanos, o último dos argumentos

O bilionário Bill Gates

Gery Keszler e Annie Lennox puxaram um grupelho de foliões, composto sobretudo de ativistas homossexuais vindos de vários países, autodenominado Marcha pelos Direitos Humanos.

Keszler foi orador ao final da marcha: "Estigmatizar e discriminar infringe os direitos humanos", foi seu tema. Falou também Lennox, ex-cantora pop num conjunto inglês, que deixou a contestação política para defender os interesses de andróginos. Bateu na mesma tecla: "Enquanto não falarmos de direitos humanos, o combate à aids não terá sucesso".

Por que falam os ativistas em estigma da aids? Levantamentos realizados entre homossexuais aidéticos revelam a repugnância geral pela doença, até entre os próprios infectados. Uma vez contaminados, se ainda jovens, a grande maioria evita declará-la aos pais e até mesmo aos irmãos. Estudo recentemente realizado pela ÖGNA-HIV (associação médica austríaca para tratamento de aidéticos) mostra que apenas 33% dos recém-infectados falam da doença aos irmãos, 25% à mãe e 16% ao pai. Mas o segredo inconfessado e o receio de contaminar a família causam isolamento. Em que momento revelar o mal? Como fazê-lo? Em algum dia, simplesmente dizer eu sou aidético? O drama que sofrem é doloroso. Os colegas de trabalho, por exemplo, feita a revelação, passam a evitá-lo. Esse silêncio e essa separação complicam a situação psíquica do enfermo. Para 25% dos contagiados, a pior tortura é a suspeita dos outros que ainda não conhecem seu estado.

Entretanto a tragédia avança. A doença vai se fazendo notar, ora no rosto, na perda de peso, no cansaço, ora na auto-segregação, no comportamento taciturno e timorato. Quase impossível fazer novas amizades. Certos médicos temem os infectados, pois o risco de contágio é grande se os consultórios não estão inteiramente equipados. Sentindo-se outra pessoa, a vítima se auto-estigmatiza. Muitas se retiram da sociedade.

Ademais, como grande número de aidéticos são homossexuais, sentem-se excluídos da sociedade na qual perdura esta forma de bom senso que inclui a prática homossexual entre os pecados que bradam aos Céus e clamam a Deus por vingança. A este comportamento, o movimento homossexual qualifica de discriminação ou homofobia.

Exprimindo o consenso do Congresso, Keszler e Lennox referem-se a essa rejeição como um estigma que deve desaparecer, pois infringiria os direitos humanos. E alguns ativistas, cheios de ódio, já começam a exigir repressão contra os que não reconhecem à homossexualidade todos os direitos sociais.

Grupos de risco, expressão proibida

Segundo os congressistas reunidos em Viena, não se deve mais falar em grupos de risco, entre os quais indubitavelmente se incluem os homossexuais. A expressão é agora tachada de discriminatória, devendo ser substituída por comportamento arriscado - aplicável aos que não usam meios para prevenir o contágio em relações sexuais. Mas esses meios são claramente insuficientes e incômodos, e as pessoas dominadas pelo vício passam a abandoná-los. "Os homens que mantêm relações com outros homens incorrem em alto risco de infecção, mas desdenham esse risco", declara Isabell Eibl, responsável do serviço de prevenção contra aids em Viena ("Die Presse", 13-7-10).

Posição desarrazoada, mas existente, é o desbragamento sexual amortecer o medo da aids e aumentar o desejo das relações arriscadas. Ele conduz ao desregramento da razão, e neste caso ambos atentam contra a natureza. Descido o último degrau do vício, chega-se ao abismo da morte.

Esse comportamento já tinha sido apontado por Peter-Philipp Schmitt em "FAZ" (1-12-08): "Um número crescente de homossexuais não vê perigo na aids. Mas, quando infeccionados, se vêem excluídos do convívio, até mesmo outros homossexuais os excluem". Confessa um homossexual: "Costumo não revelar logo meu problema, pois quero primeiramente ser tratado como um ser humano, e depois como aidético".

As pessoas em geral lamentam o estado em que caiu o aidético, e o movimento homossexual costuma explorar esta triste circunstância para induzir a opinião pública à compaixão não só pelos aidéticos em geral, mas pelos homossexuais em particular. Assim fazendo, tentam explorar em benefício próprio a boa vontade pública, ainda largamente impregnada da caridade cristã.

A compaixão é um nobre sentimento, que leva a ajudar o próximo a livrar-se do mal em que caiu. Mas compactuar com a homossexualidade, ou mesmo tomar uma posição de indiferença em relação a ela, não cabe na verdadeira compaixão. Muito menos se poderia entender como compaixão a concessão às reivindicações do movimento homossexual, o qual considera a homossexualidade um direito humano. Seria compaixão, isto sim, ajudar um homossexual a livrar-se de sua tendência, ou ao menos a evitar a prática de atos homossexuais.

Surpreendente omissão da verdadeira solução

Em nenhum momento da realização do congresso a imprensa divulgou notícias que tratassem da contenção sexual como meio eficaz de evitar a aids. Mesmo da parte de autoridades eclesiásticas, não houve pronunciamentos nesse sentido - ou se os houve, foram de pouco relevo. Faltaram vozes recordando que o corpo humano é templo do Espírito Santo e não pode ser conspurcado. Podemos imaginar o furor que a alusão a isso provocaria nos participantes do congresso, mas é certo que seria bem recebida pela maioria da população.

Graves contradições do movimento homossexual

Ativistas dos direitos humanos aliam-se aos homossexuais, mal disfarçando suas intenções de expandir a homossexualidade usando recursos destinados ao combate contra a aids. Certas medidas de proteção de pessoas sadias em contacto com aidéticos são tachadas de discriminação. Por exemplo, eles se opõem a testes preventivos nas prisões, onde o índice de contaminação é elevado. Falando sobre medidas profiláticas nas prisões, afirma Manfred Nowak, diretor do Instituto Boltzmann para os direitos humanos em Viena: "Não, a saúde pública não tem precedência sobre o princípio da discriminação" ("Die Presse", 24-7-10).

É também qualificada de discriminatória a proibição de certos países à entrada em seu território de estrangeiros aidéticos. Discriminatória é considerada ainda a obrigação do aidético de revelar seu mal ao ser acolhido num posto de saúde ou hospital. Mas se são discriminatórias estas medidas de bom-senso, visando a restringir a propagação da doença, de que servem as organizações anti-aids?

Outra contradição gritante: essas organizações pedem sempre mais verbas para multiplicar livros, folhetos e centros de informação da juventude sobre relações sexuais. Mas a informação dos jovens nessa matéria é habitualmente feita de modo a incitar à prática sexual precoce, o que resulta em expor os jovens à doença.

O uso de drogas é tido como grande responsável pela propagação da aids. A verdade é um pouco diferente: não é tanto a droga que dissemina o mal, mas sim que, por desordem psíquica, homossexuais procuram a droga. Mesmo assim, o congresso propôs maior liberdade para o uso e o tráfico de drogas. Não querem que sejam considerados crime, e propõem que a venda seja regularizada, como sucede com o álcool e o fumo.

Viver com a infecção até a morte

Descoberta há 28 anos, a aids pode hoje não levar rapidamente à morte - pelo menos nos países ricos. Mas na África, na Rússia e na Ásia Central, esse mal vem fazendo devastações.

Se hoje pode não matar logo, aqueles que a contraem vivem com ela em que condições? O aidético passa a viver em isolamento social, senão imediatamente, ao menos depois de alguns anos. Os amigos tendem a abandoná-lo, e outros aidéticos também. A família, sabendo que ele optou por um comportamento ruinoso, não quer sacrificar-se por sua incúria.

Mão de um doente de aids na África

Alguns enfermos tomam até 28 comprimidos ao dia. Depois de alguns anos, andam com dificuldade ou usam cadeira de rodas. A toalete é feita por enfermeiros, que lhes aplicam injeções e friccionam a pele ressequida pelo excesso de medicamentos. Mas é comum encontrar enfermeiros que temem tratá-los, devido ao medo da contaminação, e sobretudo dentistas recusam clientes aidéticos. Evita-se a morte imediata, mas o paciente vive em estado mórbido, à custa de remédios caros. As verbas tornam-se cada vez mais insuficientes.

Poucas esperanças de tratamento

À esquerda, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton

"Dinheiro para a vida", gritavam os ativistas homossexuais no congresso. Clinton tomou a palavra na abertura, referiu-se à situação financeira precária do movimento anti-aids, e sustentou que os governos não devem invocar a crise mundial como pretexto para não contribuir. Dirigindo-se aos 25 mil congressistas, a maioria participando com auxílio de verbas governamentais, acenou com esta constatação de fundo emocional: "Muitos países dão muito dinheiro para que muitas pessoas com muitos aviões possam participar de muitos congressos".

Grande número de especialistas presentes manifestava poucas esperanças: aumenta no mundo o número de infectados, e não se tem ao alcance da vista uma vacina contra a aids. O pessimismo domina o meio científico. Clinton acenou ainda para a necessidade de controlar os gastos de infra-estrutura das associações anti-aids.

A opinião pública toma distância

Cresce o temor em relação à aids, donde uma aversão crescente da população à homossexualidade, tida como principal fator da sua expansão. A princesa Mette-Marit mencionou o cansaço crescente da opinião pública sobre o tema aids-homossexualidade. Foi provavelmente este o motivo de se tentar retirar do Life Ball, neste ano, a conotação predominantemente homossexual.

A princesa Mette-Marit, esposa do príncipe herdeiro da Noruega

Cresce o número de novas infecções entre jovens, mas nenhum esforço se faz no sentido de coibir a devastadora prática sexual entre eles, ninguém quer pagar pelas conseqüências da devassidão.

Os ativistas insistiam: Dinheiro para a vida. Reivindicam a adoção de um imposto sobre transações financeiras. A sugestão de se procurar donativos privados foi recebida com geral ceticismo. Quem destinará fundos para encobrir males de grupos de risco, que comodamente se entregam a relações arriscadas? Muitos países vêm congelando suas doações, outros as diminuem. Isso explica a ausência dos políticos neste congresso.

O "dogma" da liberdade sexual tende a levar as pessoas, evidentemente, à falta de interesse e de empenho da vontade para se coibir ou se prevenir. Cada um acha que a ele o mal não atacará. Uma vez infectado, tem dificuldade em tomar os medicamentos, cuja prescrição é severa, exigindo dele uma grande disciplina que ele já demonstrou não ter. Além disso, logo que notam os primeiros resultados da terapia, recaem na vida desregrada sem prevenções.

No fim, a sensação de uma ameaça cada vez mais próxima e de uma esperança cada vez mais longínqua...

Os ativistas homossexuais no congresso não ousaram utilizar sua arma psicológica preferida contra a população: a palavra homofobia. Ela visa inibir o bom senso dos que, em razão de princípios morais ou outros, recusam a homossexualidade. O movimento está dominado pela insegurança. Seus adeptos parecem preferir conquistar a compaixão a combater os opositores. Mesmo os políticos, seus maiores aliados, agora tomam distância, por receio de perder votos.

Até hoje a aids matou 25 milhões de pessoas, e 60 milhões são portadores. Espera-se uma nova onda de contaminações da qual não se pode duvidar, tendo em vista as condições de indisciplina corporal dos grupos de risco.

"É preciso não desistir, manter a esperança, vamos continuar" - diziam certos congressistas ao partir. Entretanto, na grande sala do congresso, o estado psicológico era de abatimento.

E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/F4271965-3048-313C-2EA5DD404608B8F9/mes/Setembro2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Baixar as armas? 11/08/2010
Autor: Diogo dos Santos Ferreira
Bacharel em Direito e especialista em Direito e Bioética pela UFLA/ Professor universitário

Uma das posturas em moda em matéria que envolve política pública é a de insistente propaganda contra a posse de armas de fogo pelo cidadão comum. Tal empreendimento anti-bélico tem o apoio incondicional de várias ONGs, da mídia e de grande parte do governo. O que se pretende é o desarmamento total da população civil.
As discussões acerca do tema costumeiramente flutuam em torno da eficiência ou ineficiência da medida no combate à criminalidade e na diminuição do número de mortes. Apesar da indicação incisiva do senso comum de que nada se melhora desarmando-se as vítimas, há um outro aspecto por demais importante que é muitas vezes negligenciado nos debates em torno da quaestio.
Vejamos: O primeiro bem, quase imediatamente reconhecido pela atividade racional, é o bem da vida. Ela constitui o direito premissa de todos os outros, assim sua proeminência valorativa se alça sobre toda prerrogativa que se cogite na esfera natural. Temos, portanto, o direito à vida como pai dos demais direitos e como pai da própria esfera jurídica, manifestada pela e para a vida humana moralmente disciplinada.
Temos que diante da vida a inclinação natural é de conservação. Frente a um cilindro metálico erguido ameaçadoramente contra si o reflexo psico fisiológico faz com que os braços se dobrem em defesa do restante mais sensível do corpo. Ante uma ameaça letal o corpo libera maiores quantidades de adrenalina, a tensão redobra, a atenção também. Animais reproduzem instintivamente o padrão comportamental e a reação à iminente perigo acentua que o direito à vida pode ser enunciado basicamente como o direito a manter-se vivo.
De fato a vida, no seu começo, não é requerida em juízo, nem atribuída pelas autoridades públicas do Estado, simplesmente vivemos, recebemos de Deus o Dom de viver, é nossa primeira Graça. Quando mencionamos, por conseguinte, o direito à vida nos remetemos logicamente ao direito de não ter essa mesma vida tirada por outrem arbitrariamente.
Acontece que o mundo da criminalidade não respeita direitos... os jornais escancaram os açoites e abusos cometidos por aqueles que, por óbvio, não vão se desarmar, e neste ponto a discussão se defronta com a realidade recorrente do mal.
A insurgência despropositada e injusta contra a vida de alguém reclama uma atitude repelidora e tal ação (embora possa ser de defesa meramente passiva, com muros altos, trancas nas portas e cercas eletrificadas) pode exigir um contra ataque proporcionado. Os sistemas passivos que dificultam o crime estabelecem obstáculos transponíveis, sendo que a eficácia da repulsa somente se dá, em certas situações, com atos comissivamente fortes. Afigura-se então como corolário do direito à vida o direito à legítima defesa, direito natural universalmente reconhecido.
Ora, como defender adequadamente a vida própria e de familiares senão com instrumentos viabilizadores de defesa ativa? Terá efeito o uso de arco e flecha ou facas de cozinha frente à bandidagem armada com pistolas e revólveres? Não é razoável permitir que o agredido tenha ao menos uma chance com instrumentos efetivos de contra ataque?
Em síntese: do primordial direito à vida decorre necessariamente o direito à legítima defesa e tal direito só pode ser exercido com instrumental hábil a amenizar as disparidades de um confronto, quando inevitável.

É comum ouvir-se, por outro lado, que ao Estado cabe à segurança, mas esta afirmativa não é de todo correta, já que as forças policiais não são oniscientes e a investidura do Poder Público nesta questão é outorgada pela própria sociedade, ou seja, antes do dever estatal de garantir a segurança dos particulares há o direito natural dos particulares de se protegerem (conforme demonstrado), tal direito é conferido ao Poder Público sem esgotar-se na fonte e se transforma em dever estatal subsidiário. O que vale dizer que a responsabilidade do Estado não anula o direito natural que lhe dá sustentação teórica.
A subsidiariedade do dever estatal é, além disso, uma exigência funcional, pois aquele único que está comigo o tempo todo sou eu mesmo e o crime não marca horário para ocorrer.
Infelizmente o pacifismo piegas quer obrigar o cidadão a rezar pela cartilha dos covardes fazendo dele refém indefeso e declarado da crise moral apresentada sob a modalidade de crimes nefandos, garantindo ao malfeitor que não haverá resistência e limitando a liberdade dos honestos indivíduos numa atribuição fetichista de maldade às armas legais.

Anexo – Estatísticas

Plano Internacional

Estatística de homocídios por país


Por 100mil Habitantes
Domicílios com armas

Brasil
27
3,5%

Estados Unidos
6
52%

Canadá
3
30%

Itália
2
17%

França
1,5
24,5%

Suécia
1,5
15%

Suíça
1
35%


Fontes: Movimento Viva Brasil, Movimento Viva Rio, Instituto Superior de Estudos da Religião (Iser), Polícia Federal, CPI do Tráfico de Armas. Publicado pelo Jornal "O Estado de Minas" em 24.07.2005.

Plano Nacional

Taxas de homicídios

O RS tem a maior quantidade de armas legais do país (mais de 937 mil armas, 1 arma por cada 10 habitantes, ou seja 10% da população armada) e uma das menores taxas de homicídios, 12 a cada 100 mil habitantes, ou seja o 22° Estado em homicídios do Brasil.

Há, no Estado de São Paulo, uma arma por cada 19 habitantes (somente 5,2% da população civil com armas legais) e taxa de 31 homicídios para cada 100 mil habitantes.

No Rio de Janeiro, uma arma por cada 74 habitantes (apenas 1,3% da população civil com armas de defesa) e uma taxa de 42 homicídios para cada 100 mil habitantes.

Fonte: Secretario de Estado da Justiça e da Segurança do Rio Grande do Sul, José Otávio Germano em artigo do jornal Zero Hora – 23/09/2005.

Efeitos nefastos do desarmamento civil no mundo (proibição ou inviabilização do comércio legal de armas e munições).

Na Inglaterra

Nos últimos 20 anos, tanto os governos do Partido Conservador quanto os do Partido Trabalhista, introduziram leis de restrição às armas, sendo que, em 1997, foram banidas todas as armas de mão.
na Inglaterra e no País de Gales, países onde as armas de mão foram banidas, tem crescido. Apenas em 1990 a taxa de homicídios subiu em 50%, indo de 10 por milhão de habitantes em 1990, para 15 por milhão em 2000.




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Agressões com armas de fogo – Crescimento após o desarmamento civil.



Fonte: Federal Bureau of investigation.

Agressões com armas de fogo – Crescimento após o desarmamento civil.



Fonte: Federal Bureau of investigation.






x



Enquanto isso no Brasil

Com o estatuto do desarmamento, a entrega de armas, a proibição do porte de armas e restrição quase extintora do registro para civis.

Número de armas curtas vendidas legalmente no Brasil em 2004: somente 1044
Número de armas curtas vendidas legalmente no Brasil em 2005: apenas 352

Ribeirão Preto vê avanço do roubo de carga em 2005, segundo levantamento do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas – Fonte: Folha de São Paulo – 18/08/2005.

Aumentam os assaltos a residências na Barra da Tijuca e no Recreio - Fonte: JB Online – 08/08/2005.

Sergipe, que teve o maior número de entrega de armas de fogo por habitante, teve também uma crescimento do número de homicídios que o fez ultrapassar percentualmente os estados de São Paulo e Rio de Janeiro – Fonte: Jornal Cinform de Sergipe.

Assassinatos com arma crescem 35% em Cuiabá em 2005 – Fonte: Diário de Cuiabá, VIOLÊNCIA - Edição nº 11322 de 18/09/2005.
in: http://www.pelalegitimadefesa.org.br/

domingo, 18 de julho de 2010

PT: Partido ou Religião?

Quando um cidadão encontra o Partido dos Trabalhadores, encontra um tesouro. Vale a pena vender tudo para comprar o campo onde o tesouro está enterrado. O PT não é o melhor dos partidos políticos. É o único partido verdadeiro. Os outros são simulacros de partido.
A alegria de ter encontrado a verdade, faz com que o cidadão, para filiar-se ao PT, renuncie a tudo. Uma vez filiado, ele não terá mais direito de escolher seus candidatos. Seu dever será “votar nos candidatos indicados” pelo Partido. (Estatuto do Partido dos Trabalhadores, aprovado em 05/10/2007, art. 14, inciso VI). Se for candidato a um mandato parlamentar, deverá reconhecer expressamente que o mandato não é seu, mas que “pertence ao partido” (art. 69, inciso I). A obediência ao Partido é sagrada. Está acima de tudo: de suas opiniões pessoais, de suas convicções, das reivindicações dos eleitores. Só em casos extremamente excepcionais, o parlamentar poderá ser dispensado de cumprir as ordens do alto, para seguir sua consciência ou o clamor dos que nele votaram (art. 67 § 2º).
Com alegria o filiado pagará anualmente uma contribuição proporcional ao seu rendimento (art. 170). Se ocupar um cargo executivo ou legislativo, a contribuição não será anual, mas mensal, obedecendo a uma tabela progressiva (art. 171 e 173). Mas a alegria de ser filho do verdadeiro Partido faz com que todas essas imposições pareçam leves.
Dentro do Partido, zela-se não só pela unidade (“que todos sejam um”), mas pela uniformidade. Frações, públicas ou internas ao Partido, são expressamente proibidas (art. 233 §4º). No entanto, os filiados podem organizar-se em “tendências” (art. 233). Estas, porém, estão submissas às decisões partidárias e ao encaminhamento prático do Partido (art. 238). Nenhum filiado poderia, por exemplo, organizar uma tendência para combater o “casamento” de homossexuais ou a legalização do aborto, que são bandeiras do Partido. As tendências não podem ter sedes próprias (art. 235 “caput”), não podem reunir-se com não-filiados (art. 235 §3º) e não podem difundir suas posições fora do Partido (art. 236 §1º). Mesmo que uma tendência deseje publicar documentos seus contendo posições oficiais do Partido, está proibida de fazê-lo (art. 236 §2º). O petista submete-se a todo este mecanismo de controle, ciente de que o Partido sabe o que faz.
Se sou vereador e o Partido me proíbe de propor um projeto de lei pró-vida, não tenho motivo para reclamar. O Partido deve ter suas razões. Se sou senador e cabe a mim a tarefa de emitir um relatório sobre um projeto de aborto, eu, por fidelidade ao PT, não posso manifestar-me contra a proposta. Devo agradecer ao Partido por ele, benignamente, permitir que eu passe o encargo de relator a um colega abortista. Se sou deputado federal e o Partido manda que eu me ausente de uma sessão deliberativa, onde meu voto, contrário ao aborto, atrapalhará a aprovação de um projeto, a resignação será minha melhor atitude.
Tudo isso e muito mais vale a pena. Pois todos os outros partidos são comprometidos com as oligarquias, com o neoliberalismo, com a classe dos opressores, e não dão importância aos pobres, aos excluídos, aos marginalizados, aos explorados, aos sem voz e sem vez. Pertencer ao PT é uma glória tão grande que justifica qualquer custo.
Se sou petista, pouco me importa que Lula e Fidel Castro tenham fundado em 1990 o Foro de São Paulo para fortalecer a ditadura cubana, após a queda da União Soviética.
Se sou petista, não quero saber por que durante anos nenhum parlamentar petista, desde a mais humilde Câmara Municipal até o Senado Federal, ousou propor um projeto de lei antiabortista. Nem me interessa questionar a punição de dois deputados que ousaram apresentar propostas legislativas pró-vida.
Se sou petista, pouco me importa que Dilma Rousseff defenda a legalização do aborto como “questão de saúde pública”[9]. Muito menos que Dilma e Lula tenham assinado em dezembro de 2009, o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, que defende a descriminalização do aborto, o reconhecimento da prostituição como uma profissão, a união civil de pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por duplas homossexuais[10].
Aliás, o bom petista jamais chegaria até esta linha do artigo. Muito antes já teria parado a leitura por considerá-la perigosa à fé que ele tem no Partido.
Agora, uma pergunta final, com vistas às eleições de outubro: pode um cristão votar no PT? Só há um jeito: trocar sua Certidão de Batismo pela Certidão de Petismo. Duas religiões antagônicas não podem coexistir num mesmo fiel.

Um cristão não pode apoiar com seu voto um candidato comprometido com o aborto:
– ou pela pertença a um partido que obriga o candidato a esse compromisso (é o caso do PT)
– ou por opção pessoal.

Anápolis, 12 de julho de 2010.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

ESCLARECIMENTO SOBRE RECENTES MUDANÇAS INTRODUZIDAS NO PNDH-3

[Cf.: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=D6607008-3048-313C-2E3951F2E10BF318&mes=Junho2010&pag=5]

(...)
O novo decreto mantém intactos a Apresentação assinada pelo presidente Lula, o Prefácio assinado pelo ministro Vannuchi e as diversas introduções a cada bloco de temas. Permaneceram intactas sobretudo a ideologia e as diretrizes gerais, como por exemplo as que submetem o Brasil ao governo de conselhos (sovietes) ditos populares. Não foram alterados pontos que degradam a família, como os que qualificam como “configurações familiares” as uniões de “lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais”, nem a instituição de direitos trabalhistas para as prostitutas. Também passaram incólumes os itens que visam coarctar o Judiciário e a Polícia; os que tendem a desmembrar o Brasil, multiplicando indefinidamente as reservas indígenas e quilombolas; os que propugnam por uma reforma agrária de tipo socialista, etc. Passemos a examinar o que foi alterado.
Análise das mudanças
1. Foi revogado o item que visava “impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União”. A revogação é saudável, mas periférica dentro do conjunto anticristão que constitui o PNDH-3. Também foi revogado o dispositivo que tinha em vista criar “um ranking nacional de veículos de comunicação” que violassem os direitos humanos. O tal ranking é algo acessório. Com ele ou sem ele, pouco muda se houver uma lei que obrigue a mídia a seguir os tais “direitos humanos”, como se propugna em outro item.
2. O apoio à descriminalização do aborto, tendo em vista “a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos”, foi substituído, passando o aborto a ser considerado “tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde”. De fato, nada muda, pois a mulher que se apresente no posto de saúde, querendo abortar, deve ser atendida em nome da “saúde pública”. Nesse sentido, depoimento insuspeito é o de D. Dimas Lara, secretário-geral da CNBB. Embora contrário ao aborto, ele tem manifestado simpatias pelo conjunto do PNDH-3, e declarou: “O aborto não foi excluído de maneira incisiva. Quando diz que é problema de saúde pública, o que isso quer dizer? [...] Se for apenas outra forma de justificar o aborto, nada muda”.2
3. Foi substituída “a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos, [...] como medida preliminar à avaliação da concessão de medidas liminares”. O novo texto mantém “a utilização da mediação” e passa a priorizar “a oitiva do INCRA” e outros nessa mediação. Apenas não diz que ela deva ser o “ato inicial das demandas” nem “medida preliminar” à concessão de liminares. Quando, pois, deve ser realizada essa “mediação”? Nada impede, pelo texto, que seja exigida logo que houver a invasão da propriedade, mesmo antes de o proprietário-vítima ter tempo de pedir a reintegração. Ademais, para que essa mediação? Não é competente o Poder Judiciário para resolver o impasse? Nesse sentido, a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, “classificou as mudanças feitas no capítulo que trata da violência no campo como ‘uma maquiagem’. O texto acabou com a audiência coletiva que estava prevista antes de uma decisão judicial sobre reintegração de posse de terras invadidas. ‘Não muda nada. Saiu a audiência e entrou a mediação. Não tem que ter intermediário em decisão judicial. Não se pode abrir mão do direito de propriedade e do direito de segurança pública’, disse Kátia. Mediação vai obrigar o produtor rural a negociar com aqueles que ‘criminosamente invadem sua propriedade. É um desvirtuamento, um novo delírio do governo. Os produtores invadidos não podem negociar o indisponível. O texto reescrito por Paulo Vannuchi continua sendo, portanto, um amontoado de sandices’, afirmou Kátia Abreu”.3
4. No item que propõe um “marco legal estabelecendo o respeito aos Direitos Humanos nos serviços de radiodifusão”, foi retirada a parte final em que se ameaçava os órgãos da mídia com penalidades administrativas, multas, cassação de acordos, etc. Ou seja, saíram as ameaças e ficou o “marco legal”. Se vier a ser aprovado esse “marco legal”, as penalidades poderão ser aplicadas independentemente das ameaças antes formuladas. Houve alguma mudança?
5. O item que determinava “sinalizar locais públicos que serviram à repressão ditatorial”, e onde foram ocultados corpos de perseguidos políticos, mudou para “tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de direitos humanos” e promover “a localização e identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos”. Não se fala mais em “repressão ditatorial” nem em “perseguidos políticos”. A virulência verbal do texto fica assim excluída. Mas, na realidade, se um governo esquerdista quiser interpretar o novo texto na linha do anterior, encontra nele todo o necessário para fazê-lo.
6. O PNDH-3 visava, na educação básica e superior, “desenvolver programas e ações educativas, inclusive a produção de material didático-pedagógico sobre o regime de 1964-1985 e sobre a resistência popular à repressão”. Na nova redação, o objeto dos tais “programas e ações educativas” — que eram o “regime de 1964-1985” e a “resistência popular à repressão” — passou a ser “graves violações dos direitos humanos” ocorridas no período de 18-9-1946 até a data de promulgação da Constituição. Assim, ampliou-se o período abrangido e tornou-se genérico o objeto que antes era específico. Nada impede que uma comissão, adrede constituída pela esquerda para desenvolver esses programas, utilize o caráter genérico da nova redação para direcionar suas ações contra quem considerar especialmente suspeito de violações.
7. Mudou o item que propunha uma lei para alterar, nos logradouros e prédios públicos, os “nomes de pessoas que praticaram crimes de lesa-humanidade”. Agora não se fala mais em “lei”, mas sim em “fomentar debates e divulgar informações” no sentido de que esses logradouros e prédios “não recebam nomes de pessoas identificadas reconhecidamente como torturadores”. Aqui a alteração foi mais significativa, pois também não pede mais a substituição dos nomes dados no passado, mas apenas os que venham a ser propostos no futuro. Mas seu alcance é apenas simbólico.
8. Quanto ao item que determinava “acompanhar e monitorar a tramitação judicial dos processos de responsabilização civil ou criminal sobre casos que envolvam atos relativos ao regime de 1964-1985”, a nova redação não inclui mais os processos criminais, mantendo apenas os civis. Também não se refere mais a “atos relativos ao regime de 1964-1985”, mas sim a “violações dos direitos humanos” praticadas no período de 18-9-1946 até a data de promulgação da Constituição. Mais uma vez, é tornar genérico o que antes era específico.
A luta continua
As modificações havidas, ainda que mínimas, devem-se a uma sadia reação de numerosos setores da opinião pública brasileira, temerosos e insatisfeitos com os rumos tenebrosos para os quais pretende conduzir-nos o PNDH-3. Entre os que lutaram contra essas ameaças, temos a grata satisfação de incluir as anteriores análises divulgadas por Catolicismo, e também o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, que lançou pela Internet uma campanha de grande repercussão (www.ipco.org.br). Segundo o ministro Paulo Vannuchi, “tivemos de mudar o PNDH por conta da discussão entre o Brasil das tradições e aquele das novas idéias,entre o velho e o novo”.4
Viva, pois, o Brasil das tradições, pois o monstro representado pelo PNDH-3 deitou um pouco de sangue! Continuemos a luta, para que ele recue definitivamente.
__________________
Notas:
1Trata-se do decreto nº 7.177, de 12-5-2010, cuja íntegra pode ser consultada em: http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=5&data=13/05/2010
2“O Globo”, 14-5-10.
3 Idem, ibidem.
4Idem, 15-5-10.
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QSS

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O “aquecimento global”, uma fraude global

Atualmente desacreditados, tidos como “terroristas climáticos”, os ambientalistas falam cada vez menos em “aquecimento global”, expressão que vai sendo substituída por “mudanças climáticas”...

Alejandro Ezcurra Naón

Neve caindo em Miami; granizo sem precedentes na Arábia Saudita; congelamento do Mar Báltico; a nevada mais forte, em quase um século, em Moscou; e a maior da história de Washington (100 cm – um metro! – de neve); a França varrida por um vendaval gelado, com ventos de até 150 km por hora; e a Inglaterra paralisada por onda de frio, gelo e neve...

Na China como no México — que registrou as temperaturas mais baixas dos últimos 124 anos —, na Europa e até nos países da África saariana, como a Argélia, as temperaturas despencaram a níveis sem precedentes: –18°C na Espanha, –20°C na Alemanha e na Holanda, –23°C na Áustria, –41°C na Noruega, deixando trágico saldo de centenas de mortos, energia cortada, caos no transporte aéreo, terrestre e fluvial.

Assim começou o ano de 2010 no hemisfério norte. Mais modestamente, no hemisfério sul, nos dois últimos invernos nevou em Buenos Aires, o que não sucedia há mais de 80 anos. O que significa tudo isso? O que aconteceu com o tão propalado “aquecimento global”?

Que há uma anomalia climática, é indiscutível, e os rigores do último inverno boreal o demonstram. Mas sucede curiosamente que políticos e cientistas vinculados à esquerda — como o ex-vice-presidente e candidato democrata derrotado à presidência dos EUA, Al Gore — entregam-se há alguns anos a uma espécie de terrorismo climático unilateral. Segundo eles, o mundo sofre um processo de “aquecimento global antropogênico” (gerado pelo homem), devido à excessiva emissão de gases contaminadores da atmosfera.

Apóia essa versão uma montanha de dados assustadores, fornecidos sobretudo pelo “Painel Inter-governamental sobre Mudanças Climáticas” (IPCC) das Nações Unidas e o Climate Research Unit (CRU), da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, um dos centros de investigação mais empenhados em demonstrar a existência de tal fenômeno.

Os dirigentes políticos máximos mundiais repetiam servilmente as advertências alarmistas do CRU, propaladas por gigantesca ofensiva publicitária. E Al Gore foi apresentado como uma espécie de salvador da humanidade, culminando com a concessão do Prêmio Nobel da Paz de 2007. Seu filme An Inconvenient Truth (Uma Verdade Inconveniente) ganhou o prêmio da Academia de Hollywood como o melhor documentário, e seu áudio do mesmo filme obteve o Grammy de melhor vocalização.

Phil Jones, diretor do CRU e principal responsável pela farsa climática

Al Gore e os cientistas favoráveis à farsa do aquecimento global foram alvo de chacota em jornais

A cidade de Washington coberta pela neve no início do ano

Mito que desmorona...

Mas em fins do ano passado descobriu-se que os dados da CRU eram manipulados. Esse instituto já havia sido interpelado pelo Competitive Enterprise Institute, dos EUA, por ter destruído suspeitamente seus registros originais de temperaturas, sob a alegação de “falta de espaço”. Pouco depois, hackers conseguiram extrair milhares de arquivos (sobretudo e-mails) dos computadores da CRU, nos quais seus principais cientistas jactavam-se de ter forjado informações falsas para “demonstrar” que o mundo está aquecendo. Rapidamente essas mensagens passaram a circular na Internet. A conspiração ficou patente, o escândalo saltou para a imprensa, e a Universidade de East Anglia teve que admitir a autenticidade desses arquivos comprometedores. Tudo isso aconteceu poucos dias antes da Conferência das Nações Unidas sobre mudança climática em Copenhague, em dezembro de 2009.

Com a desqualificação dos relatórios alarmistas sobre o aquecimento — que constituíam o eixo de suas deliberações — o imponente fórum com 25 mil assistentes foi a pique. De seu estrepitoso fiasco só se resgatou um tênue compromisso de limitação de emissões de carbono por parte de algumas nações. O que equivale a nada!

Phil Jones, diretor do CRU e principal responsável pela farsa climática, foi deposto de seu cargo após ter admitido ser o autor dos e-mails, qualificados por ele de “espantosos”. Declarou que, ao ser descoberto, “pensou em suicidar-se”. A isso seguiu-se a renúncia do secretário executivo da Convenção da ONU sobre mudança climática, o notório “aquecimentófilo” holandês Yvo de Boer. E não era para menos: o abalo ocasionado por essa fraude — denominada “climagate”, por associação com o Watergate – foi de tal monta, que o conhecido colunista conservador inglês, lorde Christopher Monckton, chegou a exigir a dissolução das Nações Unidas...

Em resumo, este foi o incrível itinerário — do apogeu midiático ao estrepitoso fracasso — do mito do aquecimento global, que passará para a História como a maior fraude científica.

Nasce então a pergunta: o que havia por detrás dessa gigantesca manobra em escala mundial? Qual a intenção de seus promotores?

Guerra psicológica e ecologia

Como é do conhecimento de muitos dos nossos leitores, a Revolução anticristã tem por meta a anarquia (ausência de governo e de Estado), forma extrema de comunismo, que é a mais oposta ao ideal católico de sociedade. Mas para chegar a esse extremo é necessário desmantelar toda a atual estrutura organizativa do mundo. Tarefa nada fácil, e a única forma de alcançar esse objetivo seria levar os homens a desejar tal desmantelamento.

Assim, desde os tempos dos hippies e da revolução da Sorbonne em maio de 1968, procura-se propagar a idéia de que nossa civilização tornou-se inviável. Para esse objetivo contribui poderosamente o terrorismo ambiental, exagerando problemas reais do mundo industrializado tais como a hipertrofia das megalópoles contemporâneas, para concluir que devemos deixar a vida civilizada e migrar para um estilo de vida simples, miserabilista e neotribal – único “natural”, segundo os “terroristas ambientais”, e que não geraria nenhum tipo de contaminação, entre outras vantagens. Ou seja, para enfrentar o atual desequilíbrio social, os agentes da Revolução propõem saltar para um desequilíbrio oposto, e evidentemente muitíssimo pior.

A divulgação do mito de um “aquecimento global”, supostamente provocado pelas emissões de CO², constitui gigantesca manobra de guerra psicológica revolucionária, encetada para se avançar na direção do miserabilismo neotribal. Em extremos aberrantes, alguns cientistas chegaram ao ponto de propor redução drástica da população mundial a uma terça parte da atual, servindo-se do argumento simplório e falso de que cada ser humano, ao respirar, emitiria demasiado CO², envenenando a atmosfera...

Devemos alegrar-nos pelo fato de que, com o desmascaramento da fraude, o mito do “aquecimento global” — e com ele a utopia revolucionária — recebeu um duro golpe. Mas estejamos atentos, porque outros mitos-pesadelo, outras fraudes inspiradas pelo demônio, “pai da mentira” (Jn 8, 44), não tardarão em substituí-los.
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AUTOR DESTE ARTIGO: Alejandro Ezcurra Naón
E-mail do autor: ezcurra@catolicismo.com.br
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?idmat=EA3C1CD1-3048-313C-2EA0BC912280C623&mes=Abril2010 acessada em 07/05/2010

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Declaração dos movimentos sociais que participaram do VI Encontro Nacional dos Movimentos em Defesa da Vida sobre o PNDH3

Declaração dos movimentos sociais que participaram do VI Encontro Nacional dos Movimentos em Defesa da Vida sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3)

Os movimentos sociais em Defesa da Vida de todo o Brasil, reunidos entre os dias 12 e 14 de março de 2010, em Brasília-DF, para discutirem a atual conjuntura político-sócio-cultural no tocante à valorização da vida humana, decidiram em assembléia plenária emitir a seguinte declaração sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3):

1. O PNDH-3 é um Programa que fere o direito fundamental de todo cidadão, ou seja, o direito de nascer. Isso acontece porque o PNDH-3 deseja legalizar totalmente o aborto no Brasil. Por isso o PNDH-3 já deveria ser rejeitado.

2. Além disso, o PNDH-3 traz outras ameaças à vida, das quais citamos:

a) Constituição de uma “Comissão da Verdade”, a qual poderá investigar, sem prévia denúncia, a vida privada do cidadão. A implantação dessa comissão representa uma invasão direta do Estado na vida dos cidadãos e, por conseguinte, a limitação e até mesmo o fim da liberdade individual.

b) Proibição da exposição pública de símbolos religiosos. Essa proibição representa uma grave limitação da liberdade religiosa, garantida pela Constituição, e também da liberdade de expressão do indivíduo, desprezando os valores históricos e culturais do país.

c) Limitação à liberdade de imprensa, à propriedade privada e à autonomia do Judiciário.

d) Distorção do conceito de família por meio do reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo, com direito à adoção de crianças.

e) Ataque à proteção da família e à dignidade da pessoa humana por meio da profissionalização da prostituição.

3. Pelo que foi exposto, afirmamos que o PNDH-3 é um Programa autoritário e representa a desconstrução da democracia brasileira em direção ao Estado totalitário, usurpador dos direitos inalienáveis de todos os cidadãos.

4. Afirmamos a total e plena rejeição ao PNDH-3.

5. Solicitamos que o Presidente da República, o Secretário Nacional de Direitos Humanos, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal e as demais autoridades competentes revoguem imediatamente o Decreto 7037/2009, que aprova o PNDH-3 e, a partir desse ato, reafirmem, juntamente com a sociedade civil brasileira, políticas de direitos humanos que valorizem a vida e a dignidade da pessoa humana.

Brasília-DF, 14 de março de 2010.

Assinam essa Declaração:

Rede Nacional em Defesa da Vida

Apostolado da Divina Misericórdia em Defesa da Vida

Associação Casa Mãe

Associação Cultural Brasil pela Vida

Associação de Apoio ao Ser Humano e à Família (ABRACEH)

Associação Direito de Nascer

Associação Mulheres Mineiras em Ação

Associação Nacional de Mulheres pela Vida

Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família (PROVIDAFAMÍLIA)

Associação Nascer é um Direito

Associação Vida Humana

Associação Vida Plena

Centro de Ajuda à Mulher

Comissão de Promoção e Defesa da Vida (Rio de Janeiro-RJ)

Comissão de Defesa da Vida (São José dos Campos-SP)

Comissão em Defesa da Vida (Belém-PA)

Comissão em Defesa da Vida (Santo André-SP)

Comissão em Defesa da Vida (Guarulhos-SP)

Comissão em Defesa da Vida (São Bento do Sapucaí-SP)

Comissão Regional em Defesa da Vida (Regional Sul 1 da CNBB)

Comunhão e Libertação

Comunidade Família de Nazaré

Federação dos Movimentos de Defesa da Vida (FEMOV)

Fórum de Defesa da Vida

Frente Nacional de Defesa da Vida

Grupo Pró-Vida do Seminário Maior de Brasília

Instituto Eu Defendo

Movimento de Cidadania de Defesa da Vida

Movimento Legislação e Vida

Movimento Nacional Brasil sem Aborto

Pró-Vida de Anápolis

União Nacional para a Promoção e Defesa da Família (PRODEF)

Prof. Dr. José Jivaldo Lima
QSS