| 07 Janeiro 2014
Artigos - Terrorismo
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Ao revelar no Dossiê os “Fundamentos Doutrinários” que nortearam os militares na Guerrilha do Araguaia, Azambuja terminou por produzir o primeiro manual antiguerrilha brasileiro -- pelo menos é o primeiro documento sobre o tema preparado para se tornar público.
Mesmo entre os militares, poucos já o viram pessoalmente ou conhecem sua verdadeira identidade. Nos tempos da Guerrilha do Araguaia, não participou diretamente das ações na selva. Mas foi um dos analistas de informações que, entre outras tarefas, desvendou a verdadeira identidade de alguns dos guerrilheiros. Na seqüência, idealizou, pesquisou e escreveu um longo trabalho sobre a história e a atuação do PC do B, ainda hoje utilizado como referência pelos órgãos de informações militares. Por mais de duas décadas correu nos meios militares a lenda de que seria o Capitão Aza, personagem de programa infantil da TV Tupi nas décadas de 60 e 70. Não é. Um dia será possível revelar sua verdadeira identidade. Acredito, contudo, que isso seja um detalhe de menor importância. O relevante não é saber quem é o professor Azambuja, mas sim o que ele tem de relevante a acrescentar à História.
O Professor Azambuja, codinome de um dos militares responsáveis pela organização e redação final do Dossiê Araguaia, durante a confecção do trabalho terminou por criar o seu próprio manual antiguerrilha. Foi incorporado ao Dossiê,
já como primeiro capitulo, batizado de “Fundamentos Doutrinários”, onde
se faz uma longa dissertação, de 26 páginas, sobre o tipo de guerra que
encontraram no Araguaia (“Guerra Irregular”, classificaram), a
definição do inimigo que combateram (“Rebeldes”), as táticas empregadas
por esse inimigo (“Fustigação”), as vantagens e desvantagens que eles
tinham sobre as forças oficiais e, por fim, o modus operandi que as “Forças Contra-Rebeldes” deveriam empregar para combater e aniquilar os “rebeldes”.
Ao revelar no Dossiê os
“Fundamentos Doutrinários” que nortearam os militares na Guerrilha do
Araguaia, Azambuja terminou por produzir o primeiro manual antiguerrilha
brasileiro -- pelo menos é o primeiro documento sobre o tema preparado
para se tornar público. Para elaborá-lo, ele se baseou em documentos
secretos ou reservados das Forças Armadas, que na ocasião apresentaram
os “fundamentos doutrinários” aos militares que deveriam combater a
guerrilha. Também se baseou nos fundamentos da guerra popular
prolongada, escrito por Mao Tse-Tung, na Teoria do Foco Guerrilheiro, de
Régis Debray, e no Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos
Marighella. Naturalmente, a redação foi em grande parte fruto do próprio
imaginário que o autor tinha (e que ainda tem) sobre quem eram os
inimigos que os militares combateram –e como deveriam aniquilá-los.
Chamo a atenção para um trecho:
“Esse é o principal problema que o Estado de Direito enfrenta ao combater o inimigo na Guerra Irregular. No Estado de Direito existem dois tipos de pessoas: o cidadão correto e o criminoso. O terceiro tipo de pessoa, aquele que conduz uma Guerra Irregular, não existe. Aqueles que promovem uma Guerra Irregular não conhecem quaisquer obrigações, pois nada os submetem à obediência da lei civil e nada há que os submetam às leis da guerra. Em contraposição, o Estado de Direito é submetido em todos esses aspectos. (...) Em suma, a Guerra Revolucionária é uma guerra suja e nela são empregados todos os meios. Até mesmo os legais”.
(Dezembro de 2004).
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